ONU denuncia corpos em decomposição em Gaza e 100 mil casas atingidas
A ONU alerta que corpos de palestinos estão em decomposição em Gaza, enquanto 100 mil unidades residenciais já foram atingidas pelos ataques de Israel. Os dados publicados na manhã desta quinta-feira pelo Escritório Humanitário da ONU revelam a dimensão da crise.
De acordo com o levantamento, mais de 3,4 mil palestinos foram mortos, incluindo 853 crianças. 47 famílias inteiras foram dizimadas e não restou nenhum membro daqueles grupos. Do lado de Israel, são 1,4 mil mortos.
Pelo menos um quarto das residências de Gaza está destruído e hospitais trabalham no escuro.
Eis as principais conclusões da ONU sobre a crise humanitária que vive a região:
O número de mortes na Faixa de Gaza é de 3.478, incluindo pelo menos 853 crianças.
Além disso, estima-se que centenas de pessoas ainda estejam presas sob os escombros, aguardando resgate ou recuperação. A decomposição de corpos sob prédios desmoronados é uma preocupação humanitária e ambiental cada vez maior, com equipes de resgate tendo sérias dificuldades em meio a ataques aéreos contínuos, grave escassez de combustível para operar veículos e equipamentos e com conexão limitada ou inexistente a redes de celular.
Na Cisjordânia, as forças israelenses mataram três palestinos durante protestos após a explosão no hospital Al Ahli, em Gaza. Isso elevou para 64 o número de palestinos mortos pelas forças israelenses ou por colonos desde 7 de outubro, incluindo 18 crianças.
Em Gaza, 12.500 pessoas foram feridas. O número de vítimas fatais em Gaza durante os 12 dias de hostilidades ultrapassou significativamente o número total de vítimas fatais durante a escalada de 2014, que durou mais de 50 dias (2.251 vítimas fatais palestinas).
47 famílias inteiras foram mortas, totalizando cerca de 500 pessoas.
O número de deslocados internos em Gaza é estimado em cerca de um milhão e o cerco total continua.
Falta de água
O consumo médio de água para todas as necessidades (beber, cozinhar e higiene) é atualmente estimado em três litros por dia por pessoa em Gaza. As pessoas consomem cada vez mais água de fontes inseguras, correndo risco de morte e colocando a população em risco de surto de doenças infecciosas.
De acordo com a ONU, a produção de água de fontes municipais está em menos de cinco por cento do nível anterior às hostilidades. As três usinas de dessalinização de água do mar, que antes das hostilidades produziam sete por cento do abastecimento de água de Gaza, não estão funcionando no momento.
As operações de transporte de água foram interrompidas na maioria das áreas devido à falta de combustível, à insegurança e às estradas bloqueadas por escombros.
A água engarrafada está praticamente indisponível, e seu preço a tornou inacessível para a maioria das famílias. Os vendedores particulares, que operam pequenas usinas de dessalinização e purificação de água, em sua maioria movidas a energia solar, tornaram-se os principais fornecedores de água potável.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberAs pessoas recorreram ao consumo de água extraída de poços agrícolas, aumentando a exposição a pesticidas e outros produtos químicos, colocando a população em risco de morte ou de surto de doenças infecciosas.
A maioria das 65 estações de bombeamento de esgoto não está funcionando, aumentando o risco de inundação de esgoto. Em algumas áreas, isso tudo já se acumula nas ruas, o que representa riscos à saúde e ao meio ambiente. Todas as cinco estações de tratamento de águas residuais em Gaza foram forçadas a fechar devido à falta de energia.
Israel
Os disparos indiscriminados de foguetes dos grupos armados palestinos contra os centros populacionais israelenses continuaram, sem nenhuma nova morte israelense relatada. No total, cerca de 1.400 israelenses e estrangeiros foram mortos em Israel, de acordo com as autoridades israelenses, a grande maioria em 7 de outubro. O número de mortes é três vezes maior do que o número acumulado de israelenses mortos desde que a ONU começou a registrar vítimas em 2005.
Pelo menos 199 pessoas são mantidas em cativeiro em Gaza, incluindo israelenses e estrangeiros.
25% das casas de Gaza atingidas
Em 14 de outubro, o Ministério de Obras Públicas de Gaza informou a destruição de 8.840 unidades habitacionais e a inabilitação de 5.434 unidades habitacionais, resultando no deslocamento de cerca de 25.000 famílias.
Outras 83.750 unidades habitacionais sofreram danos menores ou moderados.
O número total de unidades habitacionais destruídas ou danificadas - 98.024- representa cerca de 25% de todas as unidades habitacionais e residenciais na Faixa de Gaza. Esse número pode ser muito maior, pois grandes áreas que foram severamente atingidas, como Beit Hanoun e Ash Shuja'iyeh, na cidade de Gaza, permanecem inacessíveis e os edifícios que foram destruídos não estão incluídos na conta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 59 ataques a serviços de saúde, incluindo o Hospital Al Ahli, resultando em 491 mortes e 370 feridos, incluindo 16 mortes entre profissionais de saúde e 28 feridos entre profissionais de saúde em serviço.
Quatro dos hospitais, todos no norte de Gaza (Beit Hanoun, Hamad Rehabilitation, Al Karama e Ad Dura) tiveram que ser evacuados e não estão mais funcionando.
170 instalações educacionais foram atingidas, incluindo pelo menos 20 escolas da UNRWA, duas das quais foram usadas como abrigos de emergência para deslocados internos.
Um prédio de universidade e sete igrejas foram danificados, e pelo menos onze mesquitas foram destruídas.
As instalações de água e saneamento também foram severamente danificadas, ameaçando o abastecimento de 1,1 milhão de pessoas.
Apagão
Segundo a ONU, pelo oitavo dia consecutivo, Gaza está sob um apagão total de eletricidade, depois que Israel interrompeu o fornecimento de eletricidade e combustível, o que, por sua vez, provocou o desligamento da única usina de energia de Gaza..
De acordo com funcionários da usina de energia de Gaza, as autoridades israelenses alertaram que a usina seria alvo se tentasse retomar as operações. O Ministro da Defesa de Israel indicou que a eletricidade, o combustível e o abastecimento total de água para Gaza não seriam restaurados até que os reféns israelenses fossem libertados.
Hospitais trabalhando no escuro
Os hospitais estão à beira do colapso. A maioria deles está operando em sua capacidade mínima. As medidas adotadas para manter as salas de emergência operacionais incluem a suspensão de determinadas cirurgias, o trabalho no escuro e a limitação do uso de elevadores. Procedimentos vitais, como esterilização e diálise, poderão ser interrompidos em breve.
A maioria dos feridos na explosão do hospital Al Ahli foi evacuada para o Hospital Shifa, o maior hospital de Gaza, localizado na cidade de Gaza. O grande número de feridos que chegou ao hospital forçou os médicos a tentarem realizar cirurgias no chão e nos corredores, a maioria sem anestesia.
Antes do incidente, o Shifa já estava operando muito além de sua capacidade, tratando cerca de um quarto de todos os pacientes de Gaza.
O Ministério da Saúde de Gaza pede que às pessoas que têm combustível para consumo doméstico que o doem aos hospitais.
As taxas de mortalidade em Gaza, excluindo as baixas no contexto das hostilidades, têm aumentado devido ao acesso extremamente limitado aos serviços essenciais de saúde.
A ONU aponta que é "particularmente preocupante" a situação de cerca de 20.000 pessoas com doenças mentais, já que o acesso dessas pessoas a serviços de saúde mental e medicamentos foi interrompido.
Estima-se que 50.000 mulheres grávidas enfrentam desafios extremos para ter acesso a cuidados pré-natais e de maternidade devido aos riscos relacionados à movimentação, à paralisação das instalações de saúde e à escassez de suprimentos que salvam vidas.
Padarias fechadas
Durante a noite de 18 de outubro, uma das seis padarias contratadas pelo ONU que fornecia pão para cerca de 12.000 pessoas, foi atingida. A padaria ficava em Deir Al Balah e não está mais funcionando. Quatro outras padarias na Faixa de Gaza talvez não consigam fornecer pão até amanhã devido à falta de combustível para o maquinário.
As padarias não estão conseguindo operar devido à escassez de ingredientes essenciais, principalmente farinha de trigo, que deve se esgotar em menos de uma semana. Apenas um dos cinco moinhos de Gaza está funcionando.
O apagão, os ataques e falta de água ainda ameaçam os pequenos produtores agrícolas, que alertam que estão perdendo sua colheita e interrompendo a alimentação para criação de aves, gado e peixes. O resultado pode ser o colapso do sistema de produção de alimentos em Gaza.
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