Damares posta informação falsa sobre Gaza e veto dos EUA na ONU
A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) divulgou em suas redes sociais informações falsas sobre um ato realizado na ONU contra o governo dos EUA. Nesta semana, ela publicou uma suposta notícia de que, na sede das Nações Unidas em Genebra, a delegação brasileira teria virado as costas quando a embaixadora americana, Michele Taylor, tomou a palavra para discursar durante o Comitê de Direitos Humanos da ONU.
Após a revelação por parte do UOL da desinformação publicada pela senadora, Damares retirou a postagem do ar e se disse "vítima". Mas ela não explicou que havia sido questionada pela reportagem sobre o fato, antes da decisão de apagar a suposta notícia.
Na quarta-feira, em Nova York, o governo dos EUA vetou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução do Brasil pedindo a criação de uma "pausa humanitária" em Gaza. Enquanto isso, em Genebra na ONU, o governo americano era sabatinado pelo Comitê de Direitos Humanos.
O que divulgou Damares:
Nas redes sociais, ela afirmou que "integrantes do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) viraram as costas durante um discurso da embaixadora Michelle Taylor, dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (18/10). O ato ocorreu em protesto ao veto do país a uma proposta de cessar-fogo proposta pelo Brasil.
Eu não acredito que fizeram isso!
Que vergonha!!!!
Um post ainda traz a logomarca da senadora, acompanhado pela palavra: "Vergonha". No link, uma matéria que diz:
Desrespeito: delegação brasileira na ONU vira as costas para embaixadora americana
O que de fato ocorreu:
Nada do que a senadora explicou de fato ocorreu da forma que ela descreveu.
O evento em Genebra se referia ao exame da política de direitos humanos dos EUA e, segundo fontes do alto escalão do Itamaraty, a delegação brasileira nem sequer participou do protesto. Na chancelaria, a postagem da senadora circulou em meio a indignação.
A embaixadora americana, ao fazer seu discurso, falava sobre as questões internas do seu país. Na sala da ONU, entidades e ativistas de direitos humanos dos EUA acompanhavam a sabatina e, no momento em que a diplomata discursava, as ONGs optaram por virar as costas para ela.
O motivo: um protesto silencioso contra as políticas de direitos humanos de Biden para as populações mais vulneráveis dos EUA.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberNão havia qualquer relação nem com o posicionamento dos EUA em Gaza e nem com o veto sobre a resolução brasileira.
Quem fazia o protesto não eram nem integrantes do Comitê de Direitos Humanos da ONU, como primeiro citou Damares, e nem membros da delegação brasileira, como ela também postou.
Para a agência de notícias AP, diversas dessas ONGs que estavam no local explicaram o motivo do protesto. E nenhum deles se referia ao Brasil ou ao conflito em Gaza.
O protesto, segundo a reportagem, ocorreu no momento em que Taylor disse que o compromisso dos EUA com o tratado era "um imperativo moral no coração de nossa democracia" e que seu país "lidera pelo exemplo por meio de nossa transparência, nossa abertura e nossa abordagem humilde aos nossos próprios desafios de direitos humanos".
"Nos últimos dois dias, vocês ouviram falar sobre muitas das maneiras concretas pelas quais estamos cumprindo nossas obrigações de acordo com a convenção, e também ouviram nossa promessa de fazer mais", disse Taylor.
De acordo com a AP, Jamil Dakwar, diretor do programa de direitos humanos da União Americana de Liberdades Civis, disse que a delegação dos EUA "decidiu se ater a respostas padronizadas, gerais e muitas vezes sem sentido" às perguntas do comitê.
Andrea Guerrero, diretora executiva do grupo comunitário Alliance San Diego, disse que as respostas dos EUA foram "profundamente decepcionantes".
"Por esse motivo, saímos das consultas dos EUA (com a sociedade civil) há dois dias e protestamos hoje", disse Guerrero, cujo grupo denuncia o abuso, a discriminação e a impunidade da aplicação da lei.
Ki'I Kaho'ohanohano, uma parteira tradicional do Havaí, disse que veio falar sobre a crise do atendimento à saúde materna no Havaí e em outros países, e criticou as autoridades americanas por terem "desviado" as perguntas repetidas do comitê. "Mais uma vez não temos nenhuma resposta, e isso é muito irritante", completou.
Damares, que esteve na ONU em diversas ocasiões e chegou a discursar na sala onde ocorria a reunião, jamais teve de ocupar os assentos de onde partiram os protestos. Aqueles locais estão reservados para a sociedade civil, entidades internacionais ou membros observadores. E não para os governos que fazem parte do Conselho.
Apagar e pedir desculpas
Após a publicação da reportagem do UOL e de ser procurada, a assessoria de Damares Alves retirou do ar a postagem falsa da senadora. Num primeiro momento, porém, sua assessoria questionou o pedido de esclarecimentos por parte do UOL.
Horas depois, a senadora postou em suas redes que havia sido "vítima" e que eles estavam retirando a informação do ar depois de ter verificado a notícia. Em sua postagem, não há qualquer referência ao fato de ter sido questionada pelo UOL sobre o fato.
Gente, venho aqui fazer uma correção. Ontem, assim como muitas outras pessoas, postamos uma notícia que foi publicada em diversos sites brasileiros, mas, hoje pela manhã, confirmamos que a informação não era correta.
Pedimos desculpas em ter compartilhado uma matéria que tinha informação equivocada.
Há anos, tenho sido vítima desse tipo de erro e sou radicalmente contra essa prática. Por isso, venho aqui corrigir o erro e passar a informação correta para vocês. A postagem foi retirada de minhas redes e peço que, se alguém fez prints, não reproduza.
Damares Alves
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