Brasil pedirá gesto 'humanitário' do Egito; brasileiros não são refugiados
O chanceler brasileiro Mauro Vieira está neste sábado no Cairo, onde participa de uma cúpula com o objetivo de lidar com a crise humanitária em Gaza e traçar eventuais caminhos para um processo de paz na região. Mas sua visita ainda será marcada pela tentativa de convencer as autoridades egípcias de permitir a saída de cerca de 30 brasileiros que continuam bloqueados em Gaza.
O convite havia sido feito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, ainda se recuperando de cirurgia, ele instruiu que seu representante fosse o chefe do Itamaraty.
Além de Brasil e Egito, participam da cúpula representantes de Jordânia, Qatar e Turquia, de outros países do Oriente Médio e da Europa.
O UOL apurou que Vieira terá encontros bilaterais com as autoridades egípcias, na esperança de convencê-los a permitir que esses brasileiros possam sair. Cairo abriu sua fronteira para uma primeira entrada de ajuda humanitária da ONU. Mas continua sem permitir que palestinos ou estrangeiros entrem em seu território. O temor é de que a região do Sinai se transforme em um novo local de destino de milhares de palestinos, ameaçando a estabilidade do Egito.
O Brasil, porém, tentará convencer o governo no Cairo de que esses brasileiros não ficarão em solo egípcio e que serão imediatamente embarcados ao país. A presença de uma aeronave brasileira no local seria uma forma de sinalizar esse compromisso.
O argumento que o Brasil vai usar nas conversas com o Egito é de que esses brasileiros não são refugiados, e que é solicitado apenas um "gesto humanitário" para que eles deixem Gaza e sejam, imediatamente, embarcados para o Brasil.
Numa nota à imprensa, Mauro Vieira destacou que a diplomacia brasileira levará ao encontro a mensagem de que "chegou o momento de se tomar medidas de ajuda humanitária para aliviar o sofrimento do povo de Gaza". "Não é possível mais que continue com uma carência absoluta de todos os víveres, de todos os bens de primeira necessidade, até de água", disse. "Precisamos discutir essa questão antes que a situação se transforme num problema humanitário de maior volume ainda", afirmou o ministro.
O encontro é o primeiro de alto nível, desde o veto dos EUA no Conselho de Segurança à proposta do Brasil para criar uma pausa humanitária no conflito.
"A expectativa é que se crie uma consciência de que é chegado o momento de pôr um ponto final a esse derramamento de sangue e a essa guerra que, no fundo, afeta todo mundo", disse o ministro.? ?"Eu venho ao Cairo hoje por instrução do presidente Lula para representá-lo nesta importante conferência que está sendo promovida pelo governo egípcio para se discutir a questão da guerra no Oriente Médio e, sobretudo, para trazer a mesma mensagem que nós apresentamos no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, que é chegar no momento de se tomar medidas de ajuda humanitária para aliviar o sofrimento do povo de Gaza", disse.
Segundo a nota do governo, a agenda do encontro também inclui um debate sobre os atos do Hamas contra Israel, e ainda a questão da reação israelense a esses atos de violência.
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