Jamil Chade

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Com vetos russo e chinês, resolução dos EUA sobre Gaza é barrada na ONU

O governos russo e chinês vetam e a resolução proposta pelos EUA no Conselho de Segurança da ONU é barrada. O gesto de Moscou ocorre uma semana depois que a Casa Branca já havia vetado uma outra proposta, desta vez costurada pelo governo brasileiro.

O impasse entre as potências deixa a população de Gaza sem qualquer garantia de acesso a remédios, água e alimentos. A resolução somou dez votos de apoio, três contra e duas abstenções.

Para o governo chinês, a resolução é "irresponsável". O motivo do veto, segundo os asiáticos, é a ausência de qualquer pedido de cessar-fogo por parte dos americanos no documento. Pequim alerta que, da forma que foi apresentado, o texto autoriza ainda uma escalada. "O texto não é equilibrado e nem pede investigação sobre os ataques contra o hospital Al Ahli", disse o chefe da delegação chinesa, Zhang Jun. Para Pequim, o texto ergue uma "nova narrativa" sobre a situação no Oriente Médio.

O governo russo também se recusou a apoiar a resolução e alertou que não houve consultas com os demais membros do Conselho. O texto, segundo o Kremlin, não fala de um cessar-fogo e nem condena ataques contra civis, além de não lidar com a evacuação ordenada por Israel da população palestina.

Para Moscou, a resolução apenas tem um "objetivo politico" para os EUA, enquanto Israel pode conduzir sua invasão terrestre. "É uma licença para isso", disse o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya . "O Conselho não pode permitir isso. Seria um descrédito para o Conselho", alertou.

Para Moscou, o documento "apenas serve interesse geopolíticos" dos americano e da um "sinal verde" para invasão terrestre.

Linda Thomas Greenfileld, embaixadora dos EUA, lamentou o comportamento dos russos e alegou que, quando pediu na semana passada que se esperasse a visita de Joe Biden para a região, o governo americano sabia que uma solução diplomática poderia surgir.

Segundo ela, a viagem abriu passagem para uma ajuda para Gaza. "Agora, precisamos ir além e essa resolução iria apoiar isso", disse a diplomata. Para ela, o governo americano incluiu termos como "pausa humanitária". Mas alertou que o documento precisava defender a ideia de que Israel tem direitos de garantir sua segurança e deveria condenar o Hamas.

Antes do voto, o governo brasileiro negociou a inclusão de uma referência mais explícita a uma pausa humanitária na nova resolução apresentada pelos EUA. Mas seu conteúdo foi considerado como insuficiente para os russos e chineses, principalmente diante da recusa de se falar em um cessar-fogo imediato. A votação ocorreu em reunião presidida pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira.

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O texto, porém, era considerado como uma manobra para que russos e chineses fossem obrigados a vetar. Com isso, os americanos esperam diluir o custo político que tiveram ao barrar, sozinhos, a resolução proposta pelo Brasil na semana passada e que pedia a criação de corredores humanitários e uma pausa no conflito para permitir que civis fossem atendidos.

O texto brasileiro conseguiu doze votos de apoio e duas abstenções. Mas o veto americano foi suficiente para barra-lo e gerou uma onda de indignação, até mesmo entre europeus. Ao longo de dias, o Itamaraty havia cedido, retirado referências a Israel e abandonado o termo "cessar-fogo".

Sob o argumento de que o voto poderia atrapalhar a viagem de Joe Biden para a região, a diplomacia americana vetou o projeto.

Agora, a Casa Branca submeteu ao voto uma proposta sua, focada essencialmente em dar apoio ao governo de Israel e condenar o Hamas. Uma primeira versão sequer mencionava a criação de novos corredores humanitários e qualquer referência à pausa humanitária era inexistente.

Depois de consultas e negociações durante o fim de semana, a delegação brasileira foi clara: qualquer chance de aprovar um novo texto exigiria que os EUA incluíssem referências explícitas à situação humanitária.

O Brasil preside o Conselho de Segurança ao longo do mês de outubro e quer usar essa posição para se posicionar como um ator no debate sobre a situação no Oriente Médio.

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Críticos apontam que, apesar da pressão brasileira, a resolução está ainda longe de ser equilibrada.

O novo projeto falava apenas de forma marginal sobre a possibilidade de "adotar todas as medidas necessárias, como uma pausa humanitária ou de um corredor humanitário". Mas sem qualquer compromisso.

O novo texto ainda é uma denúncia contra o Hamas e contra o terrorismo, uma exigência dos EUA e de Israel. O projeto de resolução ainda ataca aliados do grupo palestino. Mas não condena textualmente Israel pelos bombardeios e apenas fala na necessidade de civis sejam protegidos.

Na resolução, a Casa Branca solicitava que governos "intensifiquem seus esforços para suprimir o financiamento do terrorismo, inclusive restringindo o financiamento do Hamas", além de denunciar o Hezbollah.

Uma versão inicial do texto ainda afirmava que "o Irã deve cessar a exportação de todas as armas e materiais relacionados para milícias armadas e grupos terroristas que ameaçam a paz e a segurança em toda a região, incluindo o Hamas". Numa versão atualizada, a referência ao Irã desapareceu. Mas o texto pedia que todos os países cessem exportação de armas ao Hamas.

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