Brasil tenta costurar saída para impasse entre Rússia e EUA na ONU
Numa tentativa de romper com o impasse que americanos e russos vivem no Conselho de Segurança da ONU, o Brasil negocia uma nova resolução para lidar com a crise em Gaza. O texto está sendo trabalhado por diplomatas, em conversas com os demais membros do Conselho, principalmente Emirados Árabes, Japão e França. A ofensiva ainda contará com o próprio chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que viaja nesta noite de volta para Nova York.
O esforço diplomático ocorre em um momento descrito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, como "desesperador". Ao longo das últimas horas, entidades como a OMS alertaram para o risco de o número de mortos aumente ainda mais. De acordo com a ONG Save the Children, o número de crianças mortas em Gaza em três semanas supera todas as mortes de menores somadas em zonas de conflito pelo mundo desde 2019.
Ainda neste domingo, o procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, esteve na fronteira entre Gaza e o Egito. Mas não foi autorizado a entrar no local de conflito. Ele confirmou que abriu investigações tanto sobre os ataques de 7 de outubro contra Israel, por parte do Hamas, como os ataques israelenses contra a população civil.
Como o UOL revelou no sábado, o Brasil convocou uma nova reunião de emergência do Conselho de Segurança para a tarde desta segunda-feira, depois da intensificação dos ataques israelenses em Gaza.
Mauro Vieira não apenas presidirá a reunião. Ele tentará dialogar com as diferentes missões diplomáticas e com chanceleres na busca de um acordo. Enquanto isso, os últimos dias foram de intensas negociações entre os membros do Conselho, na busca de um entendimento mínimo e que poderia usar a resolução proposta pelo Brasil há duas semanas como base.
Naquele momento, o texto do Itamaraty conseguiu doze votos e apenas um veto: o dos EUA.
Fontes diplomáticas consideram que não existe ainda qualquer garantia de que um novo texto conseguirá ser produzido e o entendimento é de que seria arriscado levar ao voto uma nova resolução que seja vetada. O temor é de que, a cada impasse e cada fracasso, a credibilidade da própria ONU seja minada ainda mais.
Na sexta-feira, por uma ampla margem de votos, uma resolução foi aprovada na Assembleia Geral, pedindo uma "trégua humanitária". O governo de Israel não apenas criticou a resolução, como a chamou de "ridícula" e, horas depois, Gaza ficou sem internet e comunicação. Os ataques também se intensificaram, num sinal claro de que não iriam ouvir a recomendação da ONU.
Conforme o UOL havia revelado, parte da estratégia de levar um texto a ser votado era para que a pressão aumentasse com americanos e israelenses, principalmente no Conselho de Segurança. A ideia era a de mostrar que existe um crescente consenso internacional por algum tipo de cessar-fogo.
Para o governo brasileiro, que preside o Conselho de Segurança por mais dois dias, a missão é a de tentar encontrar um texto que permita que tanto americanos como russos não vetem a resolução. A partir de quarta-feira, quem preside o Conselho é a China.
O governo de Joe Biden insiste que um texto no Conselho precisa condenar o Hamas e deixar claro que Israel tem o direito de autodefesa. Do lado de russos, a insistência é de que o texto fale em um cessar-fogo, o que é considerado por Israel como um gesto para "atar as mãos" do governo de Benjamin Netanyahu.
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