Jamil Chade

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700 pacientes podem morrer em hospital em Gaza; em 48h, 20 não sobreviveram


Os ataques ao hospital Al Shifa e o fim do abastecimento de energia colocam em risco todos os 700 pacientes que ainda estão no local, em Gaza. O alerta é da OMS (Organização Mundial da Saúde), que anunciou na manhã desta terça-feira que 20 pessoas já morreram nas últimas 48 horas. Desde o dia 11 de novembro, foram 32 mortes, incluindo três recém-nascidos.

O local está sem combustível, o que levou os médicos a desligar as máquinas que garantem a vida de dezenas de pacientes. 36 bebês que ficaram sem incubadoras estão entre os mais ameaçados, além de pacientes que precisam de diálise.

"Os funcionários estão fazendo um esforço heroico, mas se eles não puderem trabalhar, todos correm o risco de não sobreviver", disse a porta-voz da OMS, Margaret Harris.

No total, 700 pacientes ainda estão dentro do local, além de 400 funcionários e 3 mil desabrigados. "Estamos implorando por um cessar-fogo. A situação pode ser ainda pior. O foco de um hospital é de salvar vidas, não retira-las", insistiu Harris. "É extraordinário que esses 700 pacientes ainda estejam vivos", disse.

Segundo ela, Gaza registra o "maior número de ataques em curto período contra locais de saúde". "É o pior que já vemos. Mais de 150 ataques em pouco mais de um mês. O entendimento de que o hospital é local seguro parece que foi esquecido", disse.

Harris indicou que, hoje, dois terços dos hospitais já fecharam suas portas, justamente quando Gaza mais precisava.

O governo de Israel acusa a comunidade internacional de não ter escutado a orientação dos militares de que esses hospitais deveriam ser esvaziados, sob a alegação de que o Hamas estaria usando o subsolo do prédio para se esconder.

Para a OMS, a ordem de Israel não poderia ser cumprida. "Pediram que os funcionários fizessem algo, sabendo que os pacientes morreriam na evacuação", disse. Shifa é destinado aos doentes mais graves e vulneráveis. Outro problema, segundo Harris, é o fato de que não há mais para onde levar essas pessoas, ja que todos os demais hospitais estão locados.

Israel ainda acusa o Hamas de ter rejeitado a entrega de combustível ao local. Para a OMS, o hospital precisa de "grande quantidades de combustível, o que não está chegando".

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Segundo Harris, a tensão é de tal dimensão dentro do hospital que médicos evitam andar perto das janelas e mesmo de colocar pacientes neste locais, sob o risco de que sejam almejados por atiradores posicionados em prédios ao lado.

O que diz o raio-x da ONU sobre a situação de saúde em Gaza:

A situação dos hospitais no norte continua terrível. Todos os hospitais, com exceção de um, não estão mais funcionando. Os hospitais Shifa e Al Quds estão sendo alvo de ataques pesados.

Nas últimas 24 horas, continuaram os bombardeios e os confrontos entre as tropas israelenses e os grupos armados palestinos ao redor do hospital Shifa.

Pessoas dentro e perto do hospital, incluindo um funcionário técnico, um paciente e deslocados internos, teriam sido alvejados por franco-atiradores.

As instalações da UTI, a maternidade e o último andar do prédio de cirurgia foram atingidos e danificados. Um incêndio ocorreu perto do departamento que trata de pacientes com problemas renais.

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Os militares israelenses alegaram várias vezes que grupos armados palestinos operam um complexo militar dentro e embaixo do hospital Shifa. A administração do hospital e o Ministério da Saúde palestino negaram veementemente essas alegações e pediram uma investigação independente.

Hoje, de acordo com os militares israelenses, um grupo armado palestino abriu fogo nas proximidades e dentro do complexo do hospital Al Quds, administrado pela Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, enquanto os civis fugiam das instalações; dezenas de membros desses grupos armados palestinos teriam sido mortos pelas forças israelenses. A Sociedade do Crescente Vermelho negou veementemente as alegações israelenses sobre indivíduos armados que lançaram projéteis de dentro do hospital.

Em 13 de novembro, um comboio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha que se dirigia ao hospital Al Quds, na cidade de Gaza, para evacuar pacientes, foi forçado a retornar depois de sair de Khan Younis, devido ao bombardeio incessante e à insegurança em torno do hospital. A equipe médica, os pacientes e suas famílias permanecem sitiados no hospital, sem comida, água ou eletricidade.

Operações terrestres ativas no coração da cidade de Gaza e perto dos hospitais na província de Gaza Norte interromperam o movimento de equipes de resgate e ambulâncias. Centenas de ligações foram recebidas no número de emergência de palestinos sitiados na cidade de Gaza, solicitando urgentemente ambulâncias para os feridos, evacuação para famílias presas e assistência para os que estão presos sob escombros.

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