Futura chanceler convida Lula à posse de Milei e muda tom sobre Mercosul-UE
O governo brasileiro recebeu de Diana Mondino, futura chanceler do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, um convite para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participe da posse em 10 de dezembro, em Buenos Aires.
Neste domingo, a próxima chefe da diplomacia argentina esteve em Brasília e fez a entrega do convite ao chanceler brasileiro Mauro Vieira.
Na conversa com Vieira, Mondino surpreendeu ao dizer que Milei apoia o acordo entre o Mercosul e a UE. Havia o temor de que o novo governo argentino desmontasse o esforço do Brasil por fechar um acordo comercial com os europeus ainda em 2023.
Ela não colocou qualquer ressalva para a assinatura do acordo.
Carta de Milei a Lula
A visita foi ainda marcada pela entrega de uma carta de Milei para Lula. O tom do texto é radicalmente diferente dos ataques feitos pelo argentino ao brasileiro durante a eleição.
Para o Palácio do Planalto, o conteúdo da carta é positivo. Contudo, não seria suficiente para garantir que Lula viaje até Buenos Aires no dia 10.
No texto, Milei defende a "construção de laços" entre os dois países.
Leia carta completa
Estimado senhor presidente,
Envio-lhe esta mensagem com minhas cordiais saudações e para transmitir-lhe meu convite para que se junte a mim, no próximo dia 10 de dezembro, nas cerimônias que serão realizadas aqui por ocasião da minha Assunção ao Comando Presidencial.
Sei que Vossa Excelência conhece e aprecia plenamente o que este momento de transição significa para a trajetória histórica da República Argentina, de seu povo e, naturalmente, para mim e para a equipe de colaboradores que me acompanharão na próxima gestão.
Ambas as nações têm muitos desafios pela frente e estou convencido de que as mudanças econômicas, sociais e culturais, baseadas nos princípios da liberdade, nos posicionarão como países competitivos nos quais seus cidadãos podem desenvolver suas capacidades ao máximo e, assim, escolher o futuro que desejam.
Sabemos que nossos dois países estão intimamente ligados pela geografia e pela história e, com base nisso, desejamos continuar compartilhando áreas de complementaridade, no nível da integração física, do comércio e da presença internacional, o que permitirá que toda essa ação conjunta se traduza, de ambos os lados, em crescimento e prosperidade para argentinos e brasileiros.
Espero que nosso tempo juntos como Presidentes e Chefes de Governo seja um período de trabalho frutífero e de construção de laços que consolidem o papel que a Argentina e o Brasil podem e devem desempenhar no concerto das Nações.
Esperando poder encontrá-lo nesta próxima ocasião, receba meus cumprimentos com estima e
respeito.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
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Lula vai à posse?
Uma decisão sobre a presença do presidente Lula na posse será exclusivamente do chefe de estado brasileiro.
A cerimônia está marcada para ocorrer no dia 10 de dezembro e, até lá, o governo Lula estima que um dos fatores importantes é o de entender como será feita a transição e até que ponto acordos, tarifas e compromissos entre os dois países serão preservados.
Segundo o Itamaraty, no encontro deste domingo, os representantes dos dois países "discutiram também aspectos da relação bilateral e o atual estágio das negociações Mercosul-UE".
O processo negociador está em sua fase decisiva, e um acordo pode ser anunciado no dia 7 de dezembro, antes da posse de Milei.
O temor tanto de Brasília como de Bruxelas é de que o processo possa ser travado diante do comportamento do presidente eleito da Argentina.
A reunião foi acompanhada pelos embaixadores do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli, e da Argentina em Brasília, Daniel Scioli.
A visita da chanceler foi precedida, na sexta-feira, por um encontro entre o assessor especial do Palácio do Planalto, Celso Amorim, e o embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli. Questionados sobre a agenda do encontro, pessoas que participaram da reunião se limitaram a dizer que "todos os temas da relação bilateral" foram tratados.
Em Buenos Aires, as conversas também foram estabelecidas, na esperança de que haja pelo menos um espaço para que uma normalização da relação exista entre os dois principais parceiros comerciais e político da América do Sul.
Durante a campanha eleitoral, Milei fez questão de atacar Lula, afirmou que haverá um distanciamento do Mercosul e incorporou em seu discurso muitos dos lemas bolsonaristas contra a esquerda.
Mas, desde sua vitória, alguns de seus sinais foram interpretados pela diplomacia brasileira como indicadores de que haveria espaço para um diálogo. Um deles foi Milei ter agradecido ao presidente da China, Xi Jinping, pelos votos que Pequim enviou ao país pelas eleições.
Também surpreendeu que Joe Biden tenha telefonado ao argentino. Milei tem sido uma das vozes na região de apoio a Donald Trump.
Nos últimos dias, o argentino ainda deixou claro que Lula será bem recebido se for à posse.
Mas, no Executivo, os comentários apontam que a decisão de ir dependerá de uma só pessoa: Lula.
Mesmo com um entendimento de que não haverá ruptura na relação entre Brasil e Argentina, um dos obstáculos foi a decisão de Milei de convidar o ex-presidente Jair Bolsonaro para sua posse. Em termos protocolares, a presença do brasileiro terá de ser alvo de um cuidadoso arranjo para que Lula possa estar em Buenos Aires.
Para o Itamaraty, o quebra-cabeça cabe agora aos argentinos. Mas, no Planalto, há quem tema que Bolsonaro seja mais prestigiado que Lula, criando um constrangimento para o presidente brasileiro em exercício.
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