Opep convida Brasil para se associar ao cartel; governo examina proposta
A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) apresentou um convite formal para que o Brasil faça parte do bloco, na condição de membro associado. O tema está com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Tanto o Itamaraty como o Palácio do Planalto confirmam que não existe uma decisão por parte do Brasil ainda sobre a adesão — mas admitem que o tema está sob análise.
Nesta quinta-feira, num encontro do bloco, Silveira sinalizou que o governo Lula "confirmou nossa carta de cooperação" e que isso poderia ocorrer a partir de 2024. Mas o Planalto explicou que não se trata ainda de uma adesão e uma decisão final. O ministro, porém, se mostrou disposto a "trabalhar" com o bloco.
O cartel conta com os principais exportadores de petróleo do mundo. O convite ao Brasil é para que faça parte do grupo de dez países considerados como "associados". O Brasil não seria membro pleno nem teria o mesmo peso nos votos, mas poderia fazer parte dos debates.
Fundado ainda nos anos 1960, o bloco reúne 13 produtores de petróleo, liderado pela Arábia Saudita e que conta ainda com os governos do Irã, Iraque, Venezuela e Emirados Árabes Unidos.
Já no governo de Jair Bolsonaro, os sauditas fizeram a proposta para que o Brasil aderisse, em especial entre os países da Opep+. Ou seja, aliados que poderiam engrossar o peso político do grupo ao lado de Rússia, México e outros produtores.
Num telegrama diplomático enviado pelo embaixador do Brasil na Arábia Saudita, Marcello Della Nina, e obtido pela Agência Pública via Lei de Acesso à Informação, o diplomata relata como uma viagem de uma delegação nacional foi marcada por uma ofensiva por parte do saudita para convencer Bolsonaro a aderir ao projeto de expansão da Opep.
Segundo o próprio príncipe saudita, Abdulaziz bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, o tema de adesão do Brasil já fora discutido "no mais alto nível" quando o ex-presidente visitou a Arábia Saudita em 2019.
Ele argumentou que a ideia do grupo não é controlar a oferta global nem "conformar cartel", mas "discutir o gerenciamento da oferta, estabilizar o suprimento e evitar a destruição de riqueza nos países produtores". Segundo o saudita, a Opep "aprendeu com os eventos do passado", quando tentou controlar a demanda e causou dois choques do petróleo em 1973 e 1979.
Como encaminhamento, o governo pediu uma comunicação oficial a respeito do convite ao Brasil e se comprometeu a submeter o assunto à consideração de Bolsonaro.
A busca dos árabes para a entrada do Brasil na Opep+ coincidiu com o convite para que os sauditas fossem incorporados ao grupo dos Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o que ocorrerá também em 2024. A iniciativa teria partido da China, num gesto que poderia representar uma ruptura importante da tradicional aliança dos sauditas com os Estados Unidos.
Segundo fontes diplomáticas, a participação de outros países emergentes na Opep serviria a uma estratégia de redefinição da geopolítica mundial. Dentro do governo brasileiro, há uma percepção clara de que o país assumirá cada vez mais o papel de exportador de petróleo, principalmente diante do pré-sal.
Divergências internas
Nem todos no governo, porém, concordam com a adesão. Há quem tema que o movimento seria um gesto considerado "antiocidental", e colocaria em risco a posição do país de aliado estratégico da Europa e um interlocutor viável com o governo dos EUA. Além disso, hoje, o Brasil conta com uma boa cooperação com a Agência Internacional de Energia, sediada na França. Seria, portanto, um despropósito estar em ambos os lados.
Fora questões geopolíticas, há ainda dúvidas sobre os benefícios econômicos para o Brasil. O país, apesar de ser exportador, não teria interesse em limitar as exportações de petróleo para atender aos objetivos da Opep. A avaliação é que a alta no preço do combustível não ajudaria tanto o Brasil como ajuda os sauditas, venezuelanos ou iranianos.
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