OMS: acusação de Israel contra ONU é 'distração' para não falar de bombas
A OMS (Organização Mundial da Saúde) acusa a crise aberta por Israel contra a ONU de ser uma "distração" em relação às mortes e ataques contra Gaza.
Numa entrevista coletiva nesta terça-feira, em Genebra, a agência internacional condenou os ataques do Hamas e disse que os envolvidos precisam ser punidos. Mas alerta que o caso serve para tirar a atenção da crise que afeta 2,2 milhões de palestinos.
Na semana passada, enquanto a Corte Internacional de Justiça ordenava que Israel evitasse um genocídio em Gaza, o governo de Benjamin Netanyahu anunciou que havia entregue para a ONU evidências de que 12 de seus funcionários participaram dos ataques do Hamas contra o país, em 7 de outubro de 2023. O documento também diz que 190 funcionários da agência internacional atuavam como agentes duplos do Hamas.
As informações levaram a ONU abrir um inquérito e os 12 suspeitos foram demitidos. Mas a agência com mais de 13 mil funcionários e que garante o abastecimento para 2,2 milhões de palestinos teve seu financiamento duramente afetado depois que governos ocidentais anunciaram a suspensão de repasses para a entidade.
EUA, Canadá e os europeus alegam que apenas voltarão a dar dinheiro para agência depois de o caso ter sido elucidado. O corte foi criticado pela ONU, que denuncia a atitude como uma "punição coletiva" contra todos os palestinos.
Segundo a agência, se não houver uma retomada do financiamento, a entidade deixará de atender os palestinos no final de fevereiro. António Guterres, o secretário-geral da ONU, fez um apelo no domingo para que os governos reavaliem a decisão de suspender os pagamentos.
Para a OMS, o risco é de que o debate retire o foco das vítimas. "Essa discussão é uma distração do que está ocorrendo todos os dias. É uma distração sobre 27 mil mortes, dos quais 70% são mulheres e crianças", disse Christian Lindmeier, porta-voz da OMS.
A declaração é mais um capítulo de uma relação cada vez mais tensa entre os organismos internacionais e o governo de Israel, que chegou a pedir a demissão de Guterres e mesmo do chefe da agência em Gaza, Philippe Lazzarini.
Na semana passada, Israel ainda criticou o direção da OMS. A embaixadora israelense Meirav Eilon Shahar afirmou que, "em cada um dos hospitais que as forças israelenses revistaram em Gaza, foram encontradas evidências do uso militar do Hamas". "Esses são fatos inegáveis que a OMS opta por ignorar repetidamente. Isso não é incompetência; é conluio", disse.
O chefe da entidade, Tedros Ghebreyesus, rebateu. "A OMS refuta a acusação de Israel de que a OMS está em 'conluio' com o Hamas e está 'fechando os olhos' para o sofrimento dos reféns mantidos em Gaza", disse. "Essas falsas alegações são prejudiciais e podem colocar em perigo nossa equipe que está arriscando suas vidas para servir os vulneráveis", alertou.
Agora, nesta terça-feira, a agência voltou a criticar o Ocidente e Israel por seu comportamento em Gaza. "Isso é uma distração diante do debate sobre o acesso à água e eletricidade. Essa é uma distração em relação ao continuo bombardeio contra população", completou o representante da OMS.
Para ele, a suspeita dos envolvimentos dos funcionários da ONU é uma "importante questão criminosa". "Mas não vamos esquecer quais são os reais temas", alertou.
Segundo a OMS, desde que a Corte em Haia decidiu que Israel deve tomar medidas para evitar um genocídio em Gaza, a situação "apenas piorou".
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