Brasil vai liderar campanha para admissão da Palestina como membro da ONU
O governo Lula será um dos líderes na campanha para conseguir que a Palestina seja admitida como membro pleno das Nações Unidas. O entendimento foi fechado numa reunião neste domingo entre os chanceleres Mauro Vieira, do Brasil, e o palestino Riyad Al Maliki.
Neste fim de semana, o chanceler Mauro Vieira está na Cisjordânia para conversas, para defender a necessidade de um cessar-fogo e a criação e reconhecimento de um Estado palestino.
Em 2012, a Assembleia Geral da ONU votou para dar aos palestinos o status de membro observador na organização, o que permite que seus diplomatas participem dos debates, mas sem direito a voto. Naquele momento, apenas nove países votaram contra, entre eles EUA e Israel.
As autoridades palestinas querem lançar um pedido formal para a adesão completa às Nações Unidas ainda em 2024, principalmente diante do risco de que a guerra em Gaza abra caminho para novas invasões de terras por parte de israelenses. Só na Cisjordânia, mais de 700 checkpoints existem hoje, ampliando a tensão e o controle sobre as cidades palestinas.
Os palestinos admitem que o veto americano no Conselho de Segurança pode ser o maior obstáculo. Para fazer parte da campanha, agora contam com a adesão do Brasil.
Para o Itamaraty, a adesão como membro pleno é um passo importante para a garantia de que um acordo de paz estabeleça de forma explícita a criação de dois estados - palestino e israelense -, com suas fronteiras reconhecidas internacionalmente.
Al Maliki deve ir em breve ao Brasil para detalhar a forma pela qual a campanha na ONU pode ocorrer.
No encontro neste domingo, segundo o Itamaraty, "ele descreveu a extrema gravidade da situação humanitária em Gaza e destacou o papel corajoso do presidente Lula em defesa da Palestina e dos palestinos". Segundo Maliki, Lula "mostrou liderança, coragem, compromisso e humanismo ao longo da atual crise em Gaza e falou de forma "forte e clara", ao descrever "a situação como ela é".
As declarações do presidente brasileiro causaram indignação por parte de Israel e foram criticadas também por uma ala das forças políticas no Brasil.
"Para o chanceler palestino, que manifestou grave preocupação com os riscos de uma iminente ação militar em Rafah, o presidente brasileiro tem sido um dos poucos líderes mundiais a agir em defesa dos civis desde a primeira hora e a ter a coragem de 'dizer as palavras certas na hora certa'", diz.
Maliki relatou também um crescente aumento da violência de colonos israelenses contra palestinos na Cisjordânia. "Durante a reunião, Mauro Vieira reiterou a plena disposição brasileira em liderar esforço pela admissão da Palestina como membro pleno da ONU", completou o Itamaraty.
Brasil vai dar dinheiro para agência da ONU em Gaza
O governo brasileiro indicou que vai continuar financiando a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), depois da polêmica aberta pelas acusações de Israel que visava fechar a entidade.
Israel acusou doze funcionários dos mais de 10 mil membros da agência de terem participado dos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023. Como resultado, 16 dos maiores financiadores retiraram ou congelaram os repasses para a UNRWA, deixando a operação humanitária numa situação crítica.
A ONU demitiu os funcionários e abriu um inquérito, o que levou os governos europeus e o Canadá a voltar a fazer os repasses. Os EUA, maior doadores da agência, continuam bloqueando o financiamento.
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JAMIL CHADE
Todo sábado, Jamil escreve sobre temas sociais para uma personalidade com base em sua carreira de correspondente.
Quero receberA contribuição brasileira é modesta, de apenas US$ 75 mil (R$ 375 mil) por ano. Mas a manutenção do envio do dinheiro é considerado como um gesto político. De acordo com fontes diplomáticas, o valor deve ser repetido em 2024.
O Brasil é o único país latino-americano no conselho da agência da ONU e sua contribuição foi muito maior no passado. Em 2023, o embaixador Celso Amorim indicou que o país faria uma contribuição, mas não havia indicado o valor.
Lula é nomeado membro honorário de Fundação Yasser Arafat
A sinalização do governo brasileiro ocorre no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é escolhido como membro honorário do conselho de Curadores da Fundação Yasser Arafat, entidade que tem como objetivo preservar o legado do líder palestino e contribuir para a "unidade" entre os palestinos.
Num evento na manhã deste domingo, em Ramallah, o chanceler Mauro Vieira representou Lula, numa cerimônia na qual toda a cúpula política palestina esteve presente. Uma vez mais, o brasileiro foi chamado de "corajoso".
A entidade é hoje liderada por Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina. O gesto dos palestinos é um reconhecimento ao brasileiro pela defesa da causa palestina.
Chanceler pede cessar-fogo em roteiro que não inclui Israel
A viagem de Mauro Vieira pelo Oriente Médio marca seu primeiro périplo pela região. O chanceler esteve na Jordânia e ainda visitará o Líbano e Arábia Saudita.
No centro da pauta está a tradicional defesa por parte do Brasil da criação de dois Estados como solução para a crise entre palestinos e israelenses. Mas a viagem não incluirá Israel no roteiro.
Diplomatas explicaram que o chanceler cumpre uma viagem com base em convites que tinham sido feitos a ele por esses governos, antes mesmo da eclosão da crise entre Israel e Brasil. Não havia um convite do governo de Benjamin Netanyahu para uma visita do chanceler brasileiro.
Os dois países vivem um momento de distanciamento, desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou a Alemanha nazista em uma fala sobre a situação de Gaza. Como resposta, o governo de Israel declarou o brasileiro como "persona non grata" e o Brasil retirou seu embaixador de Tel Aviv.
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