Brasil fica sem embaixador em Israel; diplomata saiu por ordem do governo
Numa mudança feita a toque de caixa, o diplomata Frederico Meyer deixou Tel Aviv e desembarcou em Genebra como representante do Brasil na Conferência de Desarmamento da ONU. De forma definitiva, o país agora não tem embaixador em Israel.
No dia 29 de maio, um decreto publicado no Diário Oficial determinava a retirada de forma definitiva do diplomata de Israel, sem que um substituto fosse designado. Menos de uma semana depois, Meyer já deixou o país.
A velocidade da saída surpreendeu até mesmo experientes embaixadores no Itamaraty. Segundo fontes na chancelaria, não havia mais nada a fazer lá.
O ato não significa uma ruptura completa de relações diplomáticas com Israel. Mas é o gesto mais forte já tomado pelo Brasil contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
A embaixada será, a partir de agora, liderada pelo encarregado de Negócios, reduzindo a importância da representação. Diplomaticamente, é um sinal aos israelenses do grau de prioridade e de relevância que o governo Lula quer manter com o governo Netanyahu.
A retirada ocorre às vésperas de uma decisão do Tribunal Penal Internacional sobre o pedido de sua procuradoria para emitir uma ordem de prisão contra Netanyahu por crimes de guerra e contra a humanidade. O chefe de governo de Israel também enfrenta críticas de organizações internacionais e de líderes mundiais, como Emmanuel Macron, que denunciaram as mortes de palestinos.
Brasil x Israel
Conforme o UOL revelou em maio, Meyer voltou para Israel depois de três meses da pior crise diplomática entre os dois países. Em fevereiro, por conta de comentários de Lula sobre a Segunda Guerra Mundial e a situação em Gaza, Israel declarou o presidente como "persona non grata", convocou Meyer e exigiu que o brasileiro pedisse desculpas, o que jamais ocorreu.
A reprimenda de Israel ocorreu no Museu do Holocausto, em hebraico e diante do embaixador. O ato foi considerado no Itamaraty como uma "humilhação". Dias depois, para demonstrar insatisfação, Lula convocou de volta para Brasília o diplomata, oficialmente para consultas.
Na semana passada, porém, ele retornou para Israel e, nos últimos dias, chegou a assinar telegramas oficiais aos demais embaixadores brasileiros, indicando que estava em Tel Aviv. Mas em nenhum momento comunicou ao governo de Israel que estava de volta ao posto. Ele, portanto, não reassumiu.
Na ONU
Meyer assume um cargo esvaziado nas Nações Unidas. Ainda que tenha um papel estratégico, a Conferência do Desarmamento vive uma completa paralisia nos últimos 20 anos, chegando a ser alertada por António Guterres, secretário-geral da ONU, sobre o risco de um órgão viver tal situação.
O cargo, até agora, era ocupado pelo embaixador Flávio Damico.
Deixe seu comentário