Jamil Chade

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Fluxo de venezuelanos supera da Ucrânia e mundo bate recorde de refugiados

Sem soluções para as maiores crises mundiais, o planeta registra um número recorde de refugiados e deslocados. Dados divulgados pela ONU nesta quinta-feira (13) revelam que 120 milhões de pessoas foram obrigados a fugir de suas casas e cidades, até maio de 2024. Gaza, Sudão e Mianmar estão criando um novo fluxo de pessoas.

Mas, pela primeira vez em mais de dois anos, a crise na Venezuela volta a superar o fluxo de refugiados da Ucrânia, país em guerra.

De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados, 2023 foi o 12º ano de aumento consecutivo de deslocados e reflete conflitos novos e a incapacidade de resolver crises de longa data. Esse número tornaria a população global deslocada equivalente ao 12º maior país do mundo, equivalente ao Japão.

Só no Brasil, os dados da ONU destacam que quase 600 mil refugiados e deslocados vivem hoje no país, um número também inédito. O relatório também ofereceu uma nova análise sobre a crise climática e como ela afeta de forma crescente e desproporcional as pessoas deslocadas à força.

Os dados ainda revelam que, depois de dois anos de guerra na Ucrânia, a crise venezuelana volta a superar o drama europeu.

Maiores fluxos de refugiados:

  1. Afegãos: 6,4 milhões
  2. Sírios: 6,4 milhões
  3. Venezuelanos: 6,1 milhões
  4. Ucranianos: 6 milhões
  5. Sudaneses: 1,5 milhão


De acordo com a ONU, um forte fluxo de saída de venezuelanos foi registrado em 2022 e 2023. Há dois anos, eles eram 5,4 milhões. Hoje, superam a marca de 6,1 milhões. 97% dos refugiados venezuelanos estão na América Latina, com 2,9 milhões na Colômbia, 1 milhão no Peru, 471 mil no Equador e 435 mil no Chile.

No caso da Ucrânia, também houve um aumento entre 2022 e 2023, mas num ritmo menor. Um total de 2,6 milhões de ucranianos estão nos países vizinhos e outros 3,4 milhões no restante da Europa e pelo mundo.

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Ao contrário da narrativa de partidos populistas e xenófobos da Europa, o maior fluxo não está nos países ricos: 75% dos deslocados e refugiados encontram abrigos em outros países pobres. Juntos, eles representam apenas 20% do PIB mundial e acolhem três quartos dos estrangeiros.

Sudão e Gaza

Um fator importante que aumentou os números foi o conflito devastador no Sudão: desde abril de 2023, mais de 7,1 milhões de novos deslocamentos foram registrados no país, com outros 1,9 milhão fora dele. No final de 2023, um total de 10,8 milhões de sudaneses foram desarraigados. Na República Democrática do Congo e em Mianmar, milhões de pessoas foram deslocadas internamente no ano passado devido a combates violentos.

A UNRWA estima que, até o final do ano passado, cerca de 1,7 milhão de pessoas (75% da população) foram deslocadas na Faixa de Gaza pela violência catastrófica, sendo que alguns refugiados palestinos fugiram várias vezes. A Síria continua sendo a maior crise de deslocamento do mundo, com 13,8 milhões de pessoas deslocadas à força dentro e fora do país.

"Por trás desses números gritantes e crescentes estão inúmeras tragédias humanas", afirmou Filippo Grandi, o Alto Comissário da ONU para Refugiados.

"Esse sofrimento deve estimular a comunidade internacional a agir com urgência para combater as causas fundamentais do deslocamento forçado", disse. "Já é hora de as partes em conflito respeitarem as leis básicas da guerra e o direito internacional. O fato é que, sem uma melhor cooperação e esforços conjuntos para lidar com conflitos, violações de direitos humanos e a crise climática, os números de deslocamento continuarão aumentando, trazendo mais miséria e respostas humanitárias caras", alertou.

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Deslocados e refugiados

O maior aumento nos números de deslocamento veio das pessoas que fogem de conflitos e permanecem em seu próprio país, chegando a 68,3 milhões de pessoas. Trata-se de um aumento de quase 50% em cinco anos.

O número de refugiados e outros que precisam de proteção internacional subiu para 43,4 milhões.

O relatório mostrou que, em todo o mundo, apenas 5 milhões de pessoas deslocadas internamente e 1 milhão de refugiados voltaram para casa em 2023. A taxa é apenas uma fração do fluxo de saída de pessoas de seus respectivos países.

"Os refugiados - e as comunidades que os acolhem - precisam de solidariedade e ajuda. Eles podem contribuir e de fato contribuem para as sociedades quando são incluídos", insistiu.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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