Presidente eleita do México abala plano brasileiro de mediação na Venezuela
Numa fala que pegou os diplomatas de surpresa, a presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum, não confirmou a posição até então assumida pelo seu país de trabalhar por uma mediação na Venezuela. Nos bastidores, mexicanos, colombianos e brasileiros costuram uma saída política para a crise. Mas, nesta segunda-feira, uma fala sua colocou dúvidas se seu governo, que começa no dia 1º de outubro, manterá a posição atual dos mediadores.
Há duas semanas, a eleição venezuelana abriu uma impasse profundo no país. De um lado, o regime de Nicolás Maduro se recusa a apresentar as atas da votação e afirma que venceu o pleito. De outro, a oposição insiste que houve fraude e que ela venceu a eleição.
A aposta da comunidade internacional passou a ser os esforços coordenados iniciados por México, Brasil e Colômbia para abrir canais de diálogo. Numa nota conjunta, há mais de uma semana, os três países indicaram que exigiriam transparência por parte de Maduro e não chancelaram sua narrativa de que houve uma suposta vitória de seu campo na eleição.
Nos últimos dias, diplomatas dos três países intensificaram as negociações para encontrar uma forma de lidar com a crise. Países como Alemanha, Reino Unido, França e EUA sinalizaram um apoio ao esforço de diálogo dos mediadores. Existia uma possibilidade de que os presidentes voltassem a conversar nesta segunda-feira, na esperança de traçar uma estratégia para falar tanto com Maduro como com a oposição. Mas o encontro não ocorreu.
Lavar as mãos
A surpresa foi a declaração de Claudia Sheinbaum, que assume o poder no lugar do presidente Andrés Manuel Lopez Obrador. Ela sugeriu que não lhe cabe reconhecer a vitória de Edmundo González, o candidato da oposição. "Para isso temos organismos internacionais", disse.
A presidente eleita respondia a um apelo da líder da oposição venezuelana, Maria Corina Machado, que insistia que a mexicana "ouvisse a dor das mães venezuelanas" e que mantivesse pressão sobre Maduro para garantir uma transição pacífica.
Sheinbaum lavou as mãos, num ato que foi interpretado como um sinal de que está desfazendo inclusive compromissos do México em declarações conjuntas com Brasil e Colômbia. "Não me corresponde, para isso temos organismos internacionais", disse. Ela apenas manteve a postura do México de exigir transparência.
"Respeitamos a todos. Mas acima de tudo o direito dos venezuelanos de decidir quem os governa. Se há alguma problema, para isso existem as instituições internacionais", afirmou, sem mencionar quais seriam essas entidades.
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