Jamil Chade

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Reportagem

Biden anuncia sanções contra Rússia e Irã por ingerência em eleição nos EUA

O governo norte-americano anunciou nesta terça-feira sanções contra a Rússia e o Irã por conta da ofensiva de ambos os países para tentar influenciar a eleição de 2024. O pleito foi vencido por Donald Trump, alvo de inquéritos por conta da ingerência de Moscou em campanhas passadas.

Num comunicado, a administração de Joe Biden explicou que as sanções foram aplicadas contra o Centro de Produção de Design Cognitivo, uma divisão do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, e o Centro de Especialização Geopolítica e seu diretor Valery Mikhailovich Korovin, ambos afiliados da Diretoria Principal de Inteligência da Rússia.

"Os governos do Irã e da Rússia visaram nossos processos e instituições eleitorais e procuraram dividir o povo americano por meio de campanhas de desinformação direcionadas", disse Bradley T. Smith, subsecretário interino do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira.

Num comunicado, ele alertou que "os Estados Unidos permanecerão vigilantes contra os adversários que querem minar nossa democracia".

O Kremlin rejeitou a acusação. "Como o presidente Vladimir Putin tem enfatizado repetidamente, nós respeitamos a vontade do povo americano. Todas as insinuações sobre 'maquinações russas' são calúnias maliciosas, inventadas para uso nas lutas políticas internas dos Estados Unidos", disse o porta-voz da embaixada russa em Washington DC.

No dia da eleição, o FBI afirmou que as supostas notícias de ameaças de bombas em locais de votação eram falsas e estariam sendo divulgadas por contas com registro na Rússia. As ameaças obrigaram dois locais na Georgia a suspender por alguns instantes a votação.

Brad Raffensperger, secretário de Estado da Georgia, afirmou que as autoridades do estado "não vão ser intimidadas. "Os russos escolheram a Georgia errada para se meter", disse, numa referência à Georgia, país que faz fronteira com a Rússia.

Agora, as autoridades americanas apontam o dedo para Moscou na fabricação de um vídeo falso que acusava a candidata Kamala Harris de estar envolvida num atropelamento e ter fugido da cena.

No caso do Irã, as investigações revelaram como Teerã chegou a difundir desinformação em espanhol, visando a comunidade de imigrantes nos EUA.

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"Esses atores procuraram alimentar tensões sociopolíticas e minar nossas instituições eleitorais durante as eleições gerais de 2024 nos EUA", disse o Departamento de Estado.

De acordo com as agências de inteligência dos EUA, as ações desses países tinham como objetivo prejudicar a eleição de 2024, dividindo os americanos e promovendo a desinformação. Para isso, esses governos criaram conteúdos falsos e contaram com a inteligência artificial para impulsionar seus esforços.

Russos queriam Trump, Irã queria Harris

As investigações concluíram que enquanto a Rússia pretendia ajudar o presidente eleito Trump a vencer a eleição, o Irã preferia Harris.

Antes mesmo da votação, de acordo com o informe da Microsoft, o aumento das hostilidades no Oriente Médio não diminuiu a velocidade das operações de influência cibernética do Irã, que "provou que pode executar várias operações contra alvos variados simultaneamente".

"Apesar do aumento das tensões com Israel, o Irã continua seus esforços para influenciar o público dos EUA", disse. Uma das ações foi se passar por um grupo de americanos que conclamavam os demais cidadãos a boicotar as eleições devido ao apoio dos candidatos a Israel. "Os esforços anteriores do grupo para incitar protestos anti-Israel em universidades ilustram ainda mais o uso de questões sociais divisivas para semear conflitos entre comunidades nos EUA", disse.

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Além disso, o grupo cibernético iraniano que a Microsoft rastreia como Cotton Sandstorm tem procurado ativamente sites e meios de comunicação relacionados às eleições, sugerindo preparativos para operações de influência mais diretas à medida que o dia da eleição se aproxima.

Já os agentes russos, segundo a Microsoft, focaram suas medidas para prejudicar a campanha Harris-Walz. "Os agentes russos continuam a criar vídeos deepfake aprimorados por IA sobre a vice-presidente Harris", disse a empresa, na época.

Em um vídeo, Kamala Harris é retratada supostamente fazendo comentários depreciativos sobre o ex-presidente Donald Trump. Em outro, de uma fazenda de trolls alinhada ao Kremlin rastreada como Storm-1516, a candidata é acusada de caça ilegal na Zâmbia.

Num informe de setembro, as autoridades americanas declararam que vários adversários estrangeiros já haviam postado inúmeros deepfakes na Internet. A Rússia foi que mais os utilizou, espalhando "narrativas conspiratórias" e amplificando "questões que dividem os EUA, como a imigração", a fim de ajudar Trump e prejudicar os democratas.

Num recente artigo, a revista The New Yorker revelou como antigos governos americanos erraram ao lidar com a interferência externa em suas eleições. De acordo com a publicação, desde 28 de julho de 2016, quando o diretor da CIA começou a informar o presidente Barack Obama sobre a conspiração do Kremlin para ajudar a eleger Donald Trump, Obama decidiu não alertar o público antes do dia da eleição sobre a extensão total da conspiração russa, temendo que isso pudesse prejudicar a vitória de Hillary Clinton, amplamente esperada.

"Essa, ao que parece, foi a preocupação errada", destacou a revista, com base em entrevistas com especialistas e ex-agentes. As agências de inteligência dos EUA esperaram até dois meses depois de Trump vencer para expor a escala abrangente da operação russa.

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