Jeferson Tenório

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Opinião

Confundir disciplina militar com educação é um erro

O encerramento do Programa Nacional de Escolas Cívico-Militares pelo governo Lula demonstra, num primeiro momento, uma postura de olhar para educação para além da disciplina. Sempre achei estranha essa relação do Exército com a formação pedagógica do ensino básico.

Há, no entanto, uma certa confusão (proposital) entre os colégios militares, que, de fato, em alguns casos, têm tido bons resultados em vestibulares, e as escolas públicas que aderiram ao programa cívico-militar implementado pelo governo Bolsonaro. Neste último, as escolas recebem militares que cuidam basicamente das questões de disciplina, mas que não atuam diretamente na formação intelectual dos alunos. Segundo site do MEC, o programa tinha objetivo de "melhorar o processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas e se baseia no alto nível dos colégios militares do Exército".

O famoso "alto nível" dos colégios militares também se deve a uma estrutura excludente e elitista, já que os alunos, na maioria das instituições, precisam passar por uma seleção rigorosa. Assim, entra quem tem mais condições socioeconômicas, muitas vezes. Além disso, tanto os colégios militares quanto as escolas que adotaram Programa Cívico-Militar são minorias nas mais de 140 mil escolas públicas espalhadas pelo país.

Em termos de educação que dê conta das desigualdades e diversidade no Brasil, esse modelo é bastante ultrapassado e autoritário. Além disso, não há em nenhum lugar do mundo um programa de sucesso escolar baseado nos modelos militares. Creio que seja no mínimo muito estranho que um projeto educacional tenha que ser coordenado pelo Ministério da Educação em parceria com o Ministério da Defesa.

É no mínimo estranho que uma unidade de ensino publico tenha que ser gerida por militares. Estranho ver reservistas das forças armadas circulando pelo pátio de uma escola. Lugar de militar é nos quarteis e não nos colégios. Na verdade, o programa criado no governo Bolsonaro faz parte de uma estratégia nefasta de ataque aos professores e educadores. Ataques que seguem sendo feitos pela extrema direita.

Se os professores são doutrinadores do comunismo, da "ideologia de gênero" (o grande delírio bolsonarista), das práticas antirracistas, eles falharam. Porque o Brasil continua homofóbico, racista e desigual. Continuamos conservadores e preconceituosos. Temos números alarmantes de feminicídios. Entendo que a disciplina militar serve para as instituições das Forças Armadas. Nas escolas precisamos de pedagogos, bibliotecários e professores que estudaram para isso.

O término do programa cívico-militar traz um alento e uma esperança de uma educação menos bélica e mais humana. Para isso, o governo Lula precisa pensar e pôr em prática uma educação que seja de fato inclusiva e eficiente, pois para uma escola de verdade precisamos de menos militares e mais Paulo Freire, bell hooks, Florestan Fernandes e Milton Santos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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