Jeferson Tenório

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Opinião

Um ano sem motociatas, jet skis e fotos de Bolsonaro em hospital

Há alguns dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se internou para fazer uma operação no quadril. Passado um ano das eleições presidenciais, a postura e as estratégias do novo presidente contrastam com as de seu antecessor, Jair Bolsonaro.

Quem não lembra das famosas fotos de Bolsonaro debilitado ou em recuperação no leito hospitalar? Os registros eram feitos pelos próprios filhos e compartilhados nas redes sociais. Coincidentemente, as imagens viralizavam em momentos de fragilidade política do ex-presidente.

O fato é que, apesar dos erros e acertos do governo Lula, a ocupação do maior cargo público do país ganhou a normalidade e a seriedade que o posto exige.

A comparação com o ex-presidente ainda se faz necessária, justamente porque o país ainda sofre com as consequências da chegada de um governo de extrema direita no Brasil. Chegamos ao fundo poço da política, o que consequentemente estimulou uma série de ações e discursos de ódio.

Obviamente que quando falo de "normalidade política" estou me referido a um comportamento básico de um chefe de Estado. E Lula tem conseguido com sucesso trazer o Brasil "de volta", como bem colocou no seu discurso recentemente na Assembleia Geral da ONU.

Neste sentido, se não há jet skis, nem motociatas ou exposição pública de sua recuperação, sobram questões urgentes ao presidente Lula, pois a incongruência entre um discurso político progressista e as ações concretas parece ser o grande desafio deste governo. A permanente crise na segurança pública e sua posição sobre a escolha do novo ministro ou ministra do STF têm desagradado grande parte da base que o apoiou.

Ainda é cedo para falarmos das próximas eleições, entretanto, o presidente Lula precisa levar em consideração que algumas pautas são inegociáveis. Escolher uma mulher negra para o STF, por exemplo, é fundamental para que sua eleição tenha sentido no que diz respeito a justiça nesse país. Além disso, o capital eleitoral apertado demostra que o jogo não está ganho.

A normalidade política é o básico, como disse antes. Entretanto, Lula não foi eleito para manter o básico, foi eleito para pôr em prática um projeto de luta contras as desigualdades. Sabemos que a complexidade do jogo político demanda outras dinâmicas que não passam, necessariamente, pelo recorte de raça e gênero. No entanto, lembremos que a violência policial e a crise na segurança pública também são oriundas de uma visão de Estado que repercute há séculos no Brasil.

Portanto, indicar uma mulher negra para o STF significa ir além de uma política que normaliza a ausência de pessoas negras em postos de poder e de decisão. Sorte a nossa não termos mais que lidar com motociatas, passeios de jet-skis, fotos de leito hospitalar nem com gafes internacionais, mas precisamos avançar rumo à igualdade de gênero e raça na sociedade brasileira.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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