Milei e Bolsonaro apostam em circo de horrores para ativar militância
Quem acompanhou a primeira visita do presidente argentino ao Brasil pode ter tido a sensação de um encontro pensado para ativar a militância da extrema direita. Numa semana difícil para os ultraconservadores na França e Reino Unido, o presidente argentino e o ex-presidente brasileiro protagonizaram cenas grotescas e misóginas, como a entrega da medalha com o rosto de Bolsonaro, representando o "incomível e imbrochável". Nas redes sociais, internautas satirizaram a medalha dizendo que faltou o termo "inelegível".
Bolsonaro está inelegível até 2030. Embora tenha sido condenado, o ex-presidente ainda acredita que sua situação pode sofrer algum revés no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A base fiel bolsonarista não acredita em outra candidatura da estatura de seu líder, o que demonstra também a força de Bolsonaro, mas também uma fragilidade da extrema direita para as próximas eleições municipais, além da presidencial.
Javier Milei chegou a Balneário Camboriú, em Santa Catarina, no último sábado, e foi recepcionado pelo ex-mandatário e pelos governadores Jorginho Mello (PL-SC) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP). Preferiu ignorar o protocolo dos chefes de Estado ao não se encontrar com o presidente Lula e tratou Bolsonaro como "perseguido judicial", fazendo referência ao indiciamento pela Polícia Federal no esquema de desvio de joias do acervo presidencial.
O presidente argentino também participou de um congresso conservador. No discurso, não mencionou diretamente Lula, mas atacou governos de esquerda na América Latina reforçando o argumento tosco e nada criativo de que não querem que seus países virem uma Venezuela ou uma Bolívia.
Além disso, teve encontros com o histriônico deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), assim como as "celebridades" bolsonaristas, como os deputados federais Ricardo Salles (PL-SP) e Mário Frias (PL-SP), o filho 04 de Bolsonaro, Jair Renan, e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
Milei parece estar disposto a comprar uma briga com o Brasil em nome de um possível capital político para a base ultraconservadora que o elegeu. É uma aposta alta, que põe em xeque não só as relações diplomáticas, mas também as relações comerciais.
Na última semana, ele chamou Lula de "corrupto" e cancelou a ida à Cúpula do Mercosul, no Paraguai, para participar da Conferência Conservadora, em Santa Catarina. O presidente argentino já fez reiterados ataques ao brasileiro. Lula não respondeu ao último, mas já pediu que Milei se desculpe pelos ataques.
O fato é que o show de horrores serviu e serve como estratégia para manter uma base fanática nos dois países, uma base que não se importa com a misogina, com o show de horrores , nem com a corrupção, mas que paga ingresso para ver o circo pegar fogo.
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