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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ato falho: ato hoje na Paulista. Necessário, não suficiente.

Manifestação antibolsonarista de 12 de setembro - Reprodução/MBL
Manifestação antibolsonarista de 12 de setembro Imagem: Reprodução/MBL

Colunista do UOL

02/10/2021 08h33Atualizada em 02/10/2021 12h43

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O ato de hoje é necessário, mas não é suficiente. Não adianta colocar dezenas de milhares de pessoas nas ruas e, depois, continuar a seguir caminhos individuais e personalistas.

O PT só é solidário quando tem hegemonia, a cabeça de chapa, difícil, quase impossível, o PT fazer um acordo de relevo não estando na cabeça. O ato de hoje serve para o PT, além da meta declarada, como convite para os outros não formarem a terceira via e caminharem na linha do "primeiro é democracia contra o fascismo", o PT quer oferecer uma sinalização de acolhida aos outros. Para ter o controle.

É certo que a primeira luta deve ser contra o fascismo, Lula não é polo oposto a Bolsonaro neste sentido, ele está no campo democrático, gostem dele as pessoas ou não, porém se a segunda ação dele for obstaculizar o surgimento de um adversário, dentro do campo democrático, ele não estará sendo democrático.

Ciro precisa se libertar de ser contra si próprio. Ciro contra Ciro. Estar do lado de uma terceira via, desde que "seja ele". Precisa admitir que pode ser outro, pela maior capacidade de aglutinar eleitores e votos, que Ciro não tem conseguido, por três vezes. Ciro precisa compreender que está fazendo algo errado. Ele é o candidato com as ideias mais articuladas para um programa de governo, é honesto, já demonstrou competência em cargos públicos, é conhecido, disputou várias eleições para a presidência, por que não consegue passar o sarrafo dos 10%? Deveria estar resolvendo esta equação. Ou ele consegue vencer esse desafio de ser um bom candidato, há tempos, mas com um Teto de Votos, ou é melhor apoiar alguém que logre chegar ao segundo turno e retirar Bolsonaro da disputa.

O PSDB precisa deixar de pensar no próprio umbigo e criar um candidato que tenha reais condições de empolgar o eleitorado e se tornar uma terceira via confiável. Quanto mais pensa só em si, mais retira do candidato a ser escolhido em Convenção, a chance de se impor futuramente como terceira via.

União Brasil, o partido que vem aí da fusão DEM-PSL, um bicho que ainda não tem cara e corpo definidos, precisa decidir se oferecerá a candidatura presidencial a Alckmin, que gostaria desse desafio, ou não.

União Brasil quer base eleitoral, pois PSL perderá votos de bolsonaristas e DEM erodiu seus votos. Se Alckmin for candidato à presidência da República, muda o quadro político em SP e no Brasil, a postergação só atrapalha aquilo que o ato de hoje quer representar: um basta a Bolsonaro. Funciona como uma doença autoimune, o organismo ataca a si mesmo.

Como vemos, os maiores adversários do ato de hoje são os próprios organizadores dele, que não fazem as respectivas lições de casa para alcançar o que irão para rua apregoar.

Exatamente dessa inépcia da oposição é que sobrevive Bolsonaro e aliados como Arthur Lira, que está atropelando tudo, com viés, fazendo as reformas ficarem pior do que deixar como está, involuindo. Quer manter o que está aí, voltando à mesma atitude que tinha quando funcionava como adjunto de Eduardo Cunha.

A cissiparidade da oposição continua a ser o alimento de Bolsonaro. Os criadores do movimento antibolsonaro são os maiores algozes de seus objetivos. Tudo pela presença de um órgão que prepondera no ser humano: o Ego.

Não adiantará gritar, se o ego não ouvir.