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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ciro contra Ciro; Freud, talvez, ajude

Ciro Gomes discursa em ato contra Bolsonaro  - VANESSA ATALIBA/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ciro Gomes discursa em ato contra Bolsonaro Imagem: VANESSA ATALIBA/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

05/10/2021 17h32Atualizada em 05/10/2021 20h37

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Ciro Gomes foi vaiado e sofreu uma tentativa de agressão. Não faz o menor sentido a tentativa de agredi-lo, e mostra a incoerência entre quem estava no ato 'Fora, Bolsonaro" e uma inclinação à violência, que se combate no presidente. Uma turma de fariseus.

Todavia, a vaia faz amplo sentido. Ciro ataca todo mundo e não procura medir as palavras. Ofende as pessoas com termos chulos ou de baixo calão. É outra incoerência, pregar união e insultar as pessoas que estão contra Bolsonaro.

Ciro descreve sempre a mesma trajetória: É Ciro contra Ciro. Ele se destrói pelo verbo e não aprende. Somos vítimas das mesmas armadilhas que criamos para nós mesmos. Ele cai sempre na mesma.

O irmão de Ciro recebe Lula. Óbvio que informou e ouviu Ciro antes, e o encontro tem algum sentido de aproximação, de diálogo, caso contrário não haveria. No mesmo dia o outro irmão chama Lula de ladrão: "É preciso ter cuidado com a carteira". Ajuda? Faz sentido?

Ciro procura se omitir de seus erros, alivia a responsabilidade, se safando com um tipo de observação: "Fico feliz que só podem atacar meu temperamento", ou algo assim. É como se ele fosse apenas um grande brasileiro, que vai mudar a Nação, mas é mal-educado. Não é isso Ciro.

Há muito mais além. E as pessoas mais simples, menos politizadas, observam o outro pela conduta e pelo que realmente o outro lhe passa como percepção. Aprenderam a sobreviver com a percepção.

Ciro não pensa nisso e acaba menoscabando a inteligência dos outros.

Nas suas falas, que são inteligentes e bem estruturadas, onde emergem os conhecimentos que realmente tem do Brasil, e a proposta mais bem concatenada entre todos os candidatos, fulge uma empáfia visível, um jeito de "eu sei tudo", alguém que já tem o programa de governo pronto e não precisa mais de contribuição. Aliás, a campanha de Ciro é uma das mais fechadas, não inclusivas, embora haja esforço de Antônio Neto e outros.

Não há meios de participação real, só de audição de "lectures" (palestras) de um "professor" de Brasil, com a indicação de "faça tudo o que seu mestre mandar". Passa também receio pelo provável comportamento futuro.
Deputados, vários, já disseram cada um com as respectivas palavras: "Se ele é assim como candidato com 10%, imagine se sentar na cadeira de presidente".

Ciro transmite medo aos parlamentares. Não é pela conduta honesta que deverá ter, e sim pela agressividade. Comparam Ciro a Collor e Dilma, alguns a Bolsonaro, no sentido do autoritarismo e da descortesia.

Ciro seria um candidato ao impeachment por desavenças com o Parlamento e outras instituições. Um gerador de conflitos. Uma pena! A postura se sobrepõe à inteligência.

Ele tem um programa de governo muito bom. Alguém pode discordar ideologicamente, mas não pela estruturação e articulação: ali há uma proposta robusta para o desenvolvimento do país.

Porém, eleitoralmente, ele tem um paredão à esquerda, Lula, que não o deixa avançar e Ciro não irá fazê-lo xingando Lula e Haddad, ainda que tenha razão em certos argumentos, contudo a forma lhe tira a razão e assusta as pessoas. Ciro terá muita dificuldade para absorver o eleitorado de centro-direita, porque seu programa é de centro-esquerda para a esquerda. Reestatizar Eletrobras, Embraer, que podem ser ideias em discussão, não seduzirão à centro-direita. Nem a correta, em minha opinião, taxação dos mais ricos e postura dura com o capital rentista.

Ciro cometeu um equívoco monumental, que de certa forma soa como incoerência, ao contratar João Santana, o homem que destruiu Marina de forma nada elegante, sustentou Lula, e está totalmente perdido achando que muda a aceitação do eleitor com filmes como o da Bíblia e da Constituição. Que não mudará a imagem e vai parecer tão marqueteiro como as peças que Santana fazia para Lula, quando ele e sua esposa, Mônica não tinham vergonha das coisas que ela falou depois em tom de denúncia.

Conforme a mídia, paga-se 250 mil/mês para Santana. Penso, ser um dinheiro desperdiçado e que fulge com jeitão Duda Mendonça/Maluf de ser.

Creio que a única saída para Ciro crescer é conseguir mudar a imagem, com atitudes sinceras, onde se mostre mais humilde e menos metido a "sabichão", que já resolveu todos os problemas no Ceará. O que não corresponde a verdade. Resolveu parte, sem dúvida, não o todo. Ele soa sempre cabotino.

Mas, para conquistar os mais humildes e sobretudo os nordestinos que apoiam Lula, ele precisa de algo mais profundo.
Ciro precisa deitar no divã.