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José Luiz Portella

REPORTAGEM

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Moeda proposta por Lula, SUR não é como euro, é como o Bancor de Keynes

brasil argentina, peso real ,  mercosul, america do sul, america latina,  - Simon Mayer/Getty Images/iStockphoto
brasil argentina, peso real , mercosul, america do sul, america latina, Imagem: Simon Mayer/Getty Images/iStockphoto

Colunista do UOL

06/05/2022 06h00Atualizada em 06/05/2022 14h32

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Um espectro ronda o mundo econômico nativo: o SUR, a moeda proposta por Galípolo e Haddad e defendida por Lula, não funciona como o euro, uma moeda única em todos os países da Comunidade Europeia, ela é semelhante ao Bancor, que Keynes apresentou como solução para incrementar o comércio entre as nações, na Conferência Monetária e Financeira Internacional das Nações Unidas e Associadas, realizada em julho de 1944, para organizar o desenvolvimento dos países no pós-guerra.

A proposta do SUR não é de uma moeda comum, que substitui as moedas nacionais como o euro.

O paradigma para o desenho é a proposta realizada por Keynes, de um sistema de compensação multilateral para relações entre os países, chamada de União Internacional de Compensação.

No caso do SUR, essa lógica seria aplicada às relações econômicas dos países da América do Sul.

Hoje, tanto a política monetária dos países sul-americanos, quanto as relações comerciais entre eles são condicionadas pela oferta de dólares, qual são tomadores passivos.

Ao permitir que as relações econômicas entre os países da região sejam mediadas por UMA MOEDA que os próprios países têm gestão, assegurando a oferta de moeda necessária à sua dimensão, são reduzidos obstáculos para que o comércio e o investimento entre os países cresçam, com benefícios para todas as economias envolvidas.

Diversos analistas estão apontando para uma necessidade de diversificação para os gestores de reservas internacionais, com tendência de fragmentação e ganho de importância relativa de outras moedas no cenário global.

Jim O'Neill, que ocupa desde 2001 o cargo de chefe de pesquisa em economia global do Goldman Sachs, afirmou que "o efeito imediato das sanções à Rússia foi destacar a continuidade do domínio dos EUA. Mas também pode forçar muitas economias emergentes a reconsiderar a abordagem de livro texto na construção de reservas em moeda estrangeira para se PROTEGEREM contra crises econômicas".

Falando no podcast Odd Lots, da Bloomberg, o chefe global de estratégia de taxas de juros de curto prazo do Credit Suisse observou que as guerras tendem a transformar as conjunturas para as moedas globais, e a perda da Rússia do acesso às suas reservas em moeda estrangeira enviou uma mensagem a todos os países:

"Eles não podem contar com esses estoques de dinheiro como seus, em caso de tensão. Pode fazer cada vez menos sentido para os gestores de reservas globais, reter dólares por segurança, já que eles podem ser retirados quando são mais necessários".

É importante que a nossa região tenha seu próprio projeto, buscando ampliar a capacidade de autodeterminação dos povos quanto ao seu destino econômico.

Na realidade, o que se busca, é dinamizar o comércio na América do Sul, de modo que os países tenham uma forma de ajudar uns aos outros.

Os economistas podem ser a favor, contra, parcialmente a favor, mas precisam considerar a proposta como ela é.

A população da região tende a ganhar, esquivando-se da dependência do dólar como moeda reserva, e por isso, imperativa.

Os países com superávit no comércio exterior entre as nações da América do Sul depositariam parte de suas reservas na chamada União Nacional de Compensação, espécie de Banco Central da região, e os valores depositados serviriam para financiar a compra de produtos dos próprios países depositantes, por parte dos outros.

É isso.

A coluna está aberta para o debate.