Topo

José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula vencer sem assumir compromissos é o maior risco, após pesquisas

 Ex Presidente Lula durante evento "Lula abraça Minas" realizado em Belo Horizonte (MG), no Expominas nesta segunda-feira (9). À direita, de marrom, sua noiva, Rosângela da Silva, a Janja - CRISTIANE MATTOS/ESTADÃO CONTEÚDO
Ex Presidente Lula durante evento "Lula abraça Minas" realizado em Belo Horizonte (MG), no Expominas nesta segunda-feira (9). À direita, de marrom, sua noiva, Rosângela da Silva, a Janja Imagem: CRISTIANE MATTOS/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

02/06/2022 07h30

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As pesquisas estão a mostrar que a questão é se Lula vence no primeiro ou segundo turno, se não cometer um desatino significativo. Risco existe.

O problema seguinte é se Lula ganha sem assumir os devidos compromissos junto à sociedade com relação a tudo o que o PT tem de ruim, e pode repetir (e que não se desculpou).

Não há linha clara de conduta com relação ao mercado financeiro sobre a economia, nem como vai efetuar um plano nacional de desenvolvimento, nem como tratará do PT e suas idiossincrasias.

Lula atua "macunaimicamente", todos sabem, e à medida que pode, deixa o cenário ambíguo, dúbio, para agir como lhe aprouver adiante.

Todo mundo, que gravita em torno imagina que está levando Lula para um lado e ele parece se deixar levar como numa dança, mas volta o passo para o outro lado, a seguir.

Lula voltou a cometer excesso verbal. Está aí um problema agregado.

Toda vez que desponta um resultado de pesquisa que o remete à vitória no primeiro turno, Lula não se contém, e mostra a "hubris", com declarações como a que fez sobre o PSDB.

Na prática, ela demonstra uma "vendetta" sobre o antigo adversário, que o derrotou duas vezes, e onde Lula compartilha a dualidade amor/ódio. Quer aceitação do PSDB Higienópolis, mas o detesta como Alckmin. O busílis aí está no complexo intelectual, apesar do PSDB Higienópolis, por muitas vezes, realmente se apresentar vaidoso demais.

Ou seja, Lula e Higienópolis cometem erros, mas se amaldiçoam reciprocamente. Isso contraria o discurso fake de "união nacional", que é apenas um quadro na parede.

Lula diz que não guarda ódio, mas guarda sim, e este sentimento se manifesta logo que se sente "por cima". É , em parte, natural, para quem passou o que ele passou, porém, não são integralmente sinceras as manifestações de "amor" e "pacificação" que diz almejar.

E este é o problema. Lula não é sincero. Cultiva uma sombra difusa.

Além de manifestações, Lula pode desfilar ações, futuramente já eleito, que irão de encontro ao discurso "Mahatma Gandhi", que utiliza agora.

Ele fala com razão que o mercado só lhe pergunta sobre o Teto de Gastos, âncora fiscal, e não pelas pessoas que estão na rua passando fome. O mercado, majoritariamente, é assim. Há exceções.

Contudo, Lula foi o primeiro a abraçar o mercado com Palocci 2003, se afeiçoar muito a André Esteves, porque é carente de atenção dos ricos, quando as pessoas sabem manejá-lo, ele se entrega.

Todo mundo tem suas carências, Lula possui esta. Sua principal vulnerabilidade, que foi explorada por empreiteiros.

Em síntese, quanto mais Lula se constela, mais o risco do não-compromisso se instala.

Como a alternativa, Bolsonaro, é pior pela própria natureza, Lula se hospeda em sede confortável de vencedor por exclusão. Tangenciando compromissos, com habilidade própria.

Outro problema que surge é o estrelato. A comparação da sua relação com Janja com Juma e Joventino do Pantanal, em auditório que vibrava como programa de TV, foi a demonstração de seu desejo de ser popstar, com enredo de salvação da Pátria. Culto populista à personalidade.

Ele só está sendo eleito pela figura de Bolsonaro, assim como Bolsonaro se elegeu, em 2018, por conta das figuras de Lula e do PT.

O PT que vive se gabando de suas ações, algumas realmente positivas, deveria saber que é o maior e quase único responsável por termos Bolsonaro como presidente.

E o risco é esse, Lula voltar a eleger um Bolsonaro em 2026.