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José Luiz Portella

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jogo dos candidatos nos leva à desmobilização e ao império do radicalismo

                                 Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) são pré-candidatos à Presidência da República                              -                                 Reprodução
Simone Tebet (MDB), Jair Bolsonaro (PL), Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT) são pré-candidatos à Presidência da República Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

05/06/2022 09h05

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Quase todos os candidatos mais visíveis estão efetuando um jogo, em vez de campanha sincera.

Jogo, no sentido, de atuarem de forma esperta, em direção dos objetivos colimados por eles. Tentarem se aproveitar das necessidades e carências da sociedade, para surfar uma onda jeitosa, com malandragem.

Não falam o que pensam, evitam debates conforme a estratégia eleitoral e posicionamento nas pesquisas, apesar de pregarem a transparência e o direito à liberdade de informação pública.

São tartufos, adornados por marqueteiros tradicionais ou aprendizes de feiticeiros das novas gerações, são astutos finórios, que enganam o eleitorado com o verbo.

Não aludem ao que pensam, mas ao que entendem que pensamos para votar neles, em parte, e outros ao que o eleitorado básico demanda. E, entramos no jogo, docemente.

O problema é o que isso produz.

Proporciona desmobilização, desinteresse, descrença e abre o caminho para o radicalismo em ambas as pontas, recrudescer.

Quando a civilização se cansa, os bárbaros invadem Roma.

Lula se reveza entre "o bonzinho antiBolsonaro", aproveitando-se do perfil irracional do presidente.

Com a camuflagem verbal de Lula sobre suas ideias recônditas, da incontinência da mágoa, que carrega contra seus adversários, pelo que passou e pelo desejo de ser aceito pela elite econômica, como forma de reconhecimento pelo seu sucesso inegável, na vida. Vaidade visceral.

Recentemente, atacou o PSDB, de quem amargou duas derrotas no primeiro turno, sem necessidade eleitoral, justamente no momento em que mais precisa seduzir o centro, indo de encontro ao discurso que o conduziu a Alckmin. O impulso venceu à esperteza. Paradoxo: é no momento dos seus maiores erros, que ele é mais sincero. Quando acerta é porque manipula.

Lula é uma proposta vaga, um remédio genérico contra a patologia bolsonarista, sem aprovação da "Anvisa", mergulhada na tentativa feérica de evitar o segundo turno, através de ações políticas em palanques estaduais, para assegurar os pontos que lhe faltam.

Faz o que precisa, naquela lógica da esquerda "sartriana", onde vale qualquer coisa pela causa socialista, supostamente, por se ter o domínio da virtude e da verdade. Stalin podia matar e encarcerar pois fazia a revolução socialista, conforme Sartre.

Bolsonaro é quase sincero. Também sua maior sinceridade é sua pior parte.

Ele a comete quando se dirige ao seu público militante, embora ele seja um pragmático, que nem nisso sabemos ser absoluta verdade ou surfe eleitoral, como quando ia às casernas pregar anarquismo sindicalista e bulir com as mulheres do cabos e soldados.

Bolsonaro é um Lula de direita, no sentido da enganação, mais violento e menos racional, porém, disposto a mudar de opinião, conforme o interesse de plantão. Vide Centrão.

Ciro é um refém da "hubris", que, junto com boas propostas, insere números falsos. Como quando disse que São Paulo está quebrado. SP tem 53 bilhões em caixa para investimentos.

Por trás do engodo das "melhores práticas internacionais", que inventou para poder passar a boiada do discurso salvacionista e voluntarista que faz, avalizado pela suposta competência "harvadiana". Virou um ator, cuja máscara se apegou demais à face.

Simone Tebet é um sólido oco, que busca uma convergência "nem de esquerda nem de direita", que ninguém sabe o que contém, exatamente, nesse pacote, que possui mais papel de embrulho do que conteúdo.

Garcia em São Paulo fala em cobrar o ensino público acadêmico para agradar à direita. Embora esse assunto não deva ser um dogma e possa ser discutido, como tudo, ele não mostra base para a proposta, que vira mais um " quem apontar arma, vai tomar bala". Ora, quem imagina que um policial ameaçado por um bandido armado, vá calar a arma?

Foi um aceno envergonhado à direita, sem explicitar a sua linha estratégica para a Segurança. Qual será a diferença para a Polícia de Doria, um liberal com ares malufistas? Ou para a Polícia de Haddad?

Isso que cabe saber.

Haddad, que afastou a concorrência com a falsa tese da "união nacional semáforo alemão" tirando Alckmin do caminho, agora acalenta Marina, que ele não acolheu quando foi triturada por João Santana, para buscar um eleitorado evangélico e ambientalista no Interior de São Paulo, onde o PT goza de rematada antipatia.

Ele evita tocar nos pecados petistas, na aversão de Marilena Chauí pela classe média e no governo "protossocialista" que Leda Paulani, sua guru na formação do governo municipal, declamou em 2013.

Também não nos informa sobre as benesses aos donos de universidades particulares com Prouni e as brechas do FIES.

E, a deterioração do ensino superior, nem o porquê de ter escolhido o Insper, símbolo de uma elite liberal à USP, para trabalhar em detrimento da USP, aonde voltou só agora, próximo às eleições. "Pesquisar" no Insper é mais produtivo? E o que ele produziu lá? Ele combateu o liberarismo lá dentro?

França não fala da degradação de São Vicente, cidade insegura, nem se define com a certeza de quem busca um sonho, funciona no jogo eleitoral, vagando entre o Senado e o governo, que sabemos como foi no que restou da quadra Alckmin. Fraco.

Tarcísio, tropeça no seu desconhecimento de São Paulo. Além de não saber onde fica Sapopemba, nem Marsilac, ele não mudou o domicílio eleitoral no Poupa Tempo. Bate no que funciona.

Aliás, um outro erro de Garcia é se qualificar como paulista raiz, num estado repleto de brasileiros de outros estados, sobretudo na Capital, ao invés de mostrar que o forasteiro Tarcísio se apresenta no desconhecimento do Poupa Tempo.

Diante de tantos simulacros, a transparência de ideias é a primeira vítima dessa guerra eleitoral.

E, a população, já amante de um conformismo confortável, se queda silente, sem reação, e sem vontade. Falta excitação de um projeto realmente transformador, na realidade.

Candidatos parecem vestibulandos às vésperas da prova, procurando fórmulas de "decoreba" e atalhos de cursinhos.

Por isso, que pobreza não dá clique, nem desigualdade dá "like".

As pessoas querem se manter enganadas pela oralidade de plantão, assim como nosso banqueiro Octavio de Lazari Jr., tentou explicar o inexplicável.

E, nós fazemos que acreditamos. Ele sabe muito bem o que significa o que fez.

O jogo dos candidatos tem a ver com o desejo da sociedade de jogar.

Não somos santinhos, coitadinhos, vítimas da situação, como gostamos de parecer. .Iludidos pelos maus. Como apregoam jornalistas populistas, todo o mal é o outro.

Gostamos de jogar. O resultado é isso aí.

O apogeu dos radicais.