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Em política, é a Faria Lima que segue Arthur Lira, não o contrário
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Reza a lenda que o poderoso Arthur Lira se empenhou como presidente da Câmara para aprovar a pauta econômica do governo Lula para ficar bem com o mercado financeiro. É uma lenda tipo mula-sem-cabeça.
A maioria dos executivos com escritórios na região da avenida Faria Lima, em São Paulo, sempre foi crítica ao presidente e à política de seu ministro da Fazenda.
Sondagem da Quaest junto a operadores de fundos de investimento feita em maio apontou que quase todos reprovavam o governo (86%) e sua política econômica (90%). Resultado similar aparecera em sondagem feita em março pelo instituto. A opinião negativa estava consolidada no mercado.
Por que raios aprovar na Câmara propostas de Fernando Haddad agradaria aos "farialimers" se três em cada quatro entrevistados avaliavam o trabalho do ministro como negativo ou regular?
A lenda está em ordem invertida.
A mula parecia estar sem cabeça porque procuraram o focinho no traseiro. Lira guiou o mercado, nunca foi guiado por ele. O presidente da Câmara sempre apoiou o arcabouço fiscal e a reforma tributária.
Quem mudou de opinião foram os "farialimers":
Avaliação positiva do trabalho de Haddad foi multiplicada 2,5 vezes: de 26% em maio para 65% em julho.
A expectativa de que a economia tende a melhorar saltou de 13% para 53% dos operadores do mercado.
Quase cinco vezes mais "farialimers" dizem que a política econômica está indo na direção certa: de irrisórios 10% em maio, pulou para 47% em julho.
Dois de cada três "farialimers" avaliam que a reforma tributária vai aumentar o bem-estar das pessoas.
Dobrou a proporção dos que apostam que vão aumentar os investimentos externos no Brasil: de 26% para 54%
As propostas de arcabouço fiscal e reforma tributária, endossadas pelo governo, já eram conhecidas em maio. Então, por que o mercado mudou tanto de opinião sobre Haddad e sua política?
Porque as propostas foram aprovadas na Câmara — é a resposta óbvia. Logo, o pessimismo dos "farialimers" não se devia ao conteúdo do arcabouço e da reforma. O mercado duvidava era da articulação política do governo:
Em maio, só 10% dos "farialimers" classificavam como "alta" a capacidade de o governo aprovar sua agenda no Congresso. E quem fez o mercado acreditar que faltavam votos ao governo? Arthur Lira.
Lira disse e repetiu que o governo não tinha base de apoio na Câmara, que era preciso trocar os articuladores políticos do Palácio do Planalto, que era preciso atender melhor aos an$eio$ dos deputados. O mercado acreditou.
E o governo também, parcialmente. Não trocou os articuladores, mas liberou R$ 8,5 bilhões em emendas parlamentares ao Orçamento da União nas vésperas da votação da reforma tributária na Câmara. É um dinheiro que o governo é obrigado a liberar, diga-se. É um direito constitucional do Legislativo desde 2019. O Executivo só controla a velocidade e a ordem das liberações.
Porém, usando o mercado e a imprensa, Lira manipulou o governo com sucesso:
Apressou a liberação das emendas;
Ganhou pontos com os colegas;
E foi comemorar com Wesley Safadão em cruzeiro nas Bahamas.
Ao vencedor, as emendas e as bermudas
Essa mudança de opinião dos "farialimers" significa que eles votariam em Lula se a eleição fosse hoje? Longe disso: 95% confiam pouco ou nada no presidente. Haddad está melhor na Faria Lima, mas não muito: 47% confiam "mais ou menos" nele.
Os operadores do mercado preferem Tarcísio de Freitas, o bolsonarista de ocasião que governa São Paulo — mesmo sem confiar que ele se elegeria numa disputa contra Lula (57% acham que não).
Se pudessem, os "farialimeres" elegeriam o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: 72% confiam muito nele. Felizmente, não podem.
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