Desenrola deve aquecer economia, mas é alívio para endividados, não solução
O professor e pesquisador da FGV Lauro Gonzalez participou do programa Análise da Notícia e afirmou que o programa Desenrola Brasil, lançado pelo governo na segunda-feira (17), não irá resolver o problema de superendividamento de aproximadamente 70 milhões de brasileiros.
Para ele, o programa apenas visa aquecer a economia do país com um alívio de dívidas para pessoas endividadas.
O Desenrola não me parece um programa que ataca as causas estruturais do superendividamento, ele é, na verdade, um programa de alívio financeiro que visa resgatar endividados para que voltem ao consumo e a economia reaqueça no curto prazo.
Lauro Gonzalez
Cobrança política para o programa funcionar. O Desenrola Brasil começou a ser implementado com a renegociação das dívidas da faixa 2, em que bancos e instituições financeiras de crédito podem se cadastrar para renegociar dívidas diretamente com clientes que possuem renda entre dois salários mínimos e R$ 20 mil.
A fase que terá início em setembro é mais complexa e envolve várias dívidas, como, por exemplo, empresas de energia elétrica, gás e luz. "Acredito que havia uma emergência e uma cobrança política para colocar alguma coisa em prática e aí a faixa 2 veio antes porque ela é mais simples", afirmou.
De 1,5 milhão a 2,5 milhões de pessoas sairão automaticamente da negativação. Há a suspensão automática da negativação por dívidas de até R$ 100, caso o banco credor tenha aderido ao programa. A expectativa é de entre 1,5 e 2,5 milhões de pessoas estejam nessa situação e, em um primeiro momento, serão as primeiras beneficiadas.
Boa oportunidade para credores renegociarem dívidas. Pessoas que possuem dívidas acima de R$ 100 terão que negociar com os bancos e essa é uma boa oportunidade. O possível problema, entretanto, é que após renegociar a dívida a pessoa pode acabar entrando novamente no caminho do superendividamento e entrar em um ciclo vicioso. "É uma oportunidade, mas não significa que o problema vai ser resolvido", destacou Gonzalez.
Bancos podem ter oportunidade de ganhar algum dinheiro. O programa é uma boa oportunidade para os bancos tentarem ganhar alguma coisa, mas não anula o fato de terem perdido dinheiro em operações negativadas. Também há dúvida se todos os bancos irão aderir ao programa porque isso significaria assumir uma nova operação de crédito, mas sem garantias do governo.
Governo quer revigorar a economia brasileira. O Desenrola Brasil não é um programa que ataca as causas estruturais do superendividamento, mas um aquecimento da economia no curto prazo para que as pessoas voltem ao consumo e revigorem o mercado. Isso tende a aumentar a arrecadação, então é possível afirmar que o governo poderá ter êxito com o Desenrola Brasil surtindo um efeito de curto prazo.
O risco pode ser muito elevado e o banco pode não querer. O banco já tem todas as informações dos clientes e vai escolher a dedo os clientes que irá oferecer os acordos.
Lauro Gonzalez, professor e pesquisador da FGV
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