De uma vez só, Tarcísio troca maioria dos coronéis da PM-SP
O governo Tarcísio de Freitas trocou hoje 34 coronéis da Polícia Militar de São Paulo. A mudança em massa da cúpula da PM inclui a exoneração do subcomandante, o segundo cargo mais importante da corporação. No lugar do "número 2" exonerado (José Alexander de Albuquerque Freixo) entrou o coronel José Augusto Coutinho, que comandava a Tropa de Choque.
E daí? É uma demonstração de força do secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite. Derrite foi capitão da Rota, o batalhão da PM paulista mais famoso pela letalidade de seus integrantes. Ele trocou a carreira policial pela política e se elegeu deputado federal em 2018 pelo PP e reeleito em 2022 pelo PL, mesmo partido de Jair Bolsonaro. É o autor do projeto de lei recém-aprovado pelo Senado que acaba com as chamadas "saidinhas" de presidiários.
As mudanças na cúpula da PM são simbólicas:
As transferências foram todas "por conveniência do serviço", ou seja, por vontade de quem dá as ordens, não de quem as recebe;
Das 63 funções de comando para coronéis na PM-SP, a mudança envolveu mais da metade (54%)
Entre os nomeados está o coronel Aleksander Lacerda, que havia sido afastado por indisciplina de um comando importante após atacar o Supremo Tribunal Federal nas redes sociais em 2021:
- Coronel Aleksander vai comandar o Centro de Altos Estudos em Segurança, onde será responsável pela graduação e pós-graduação de novos oficiais da PM-SP.
Além de 34 transferências, a mudança incluiu a promoção de três novos oficiais ao posto de coronel;
Como ocorrem à revelia dos transferidos, não será surpresa se alguns dos coronéis mais antigos afetados pelas mudanças peçam para ir para a reserva (aposentadoria), abrindo vaga para novas promoções de oficiais ligados a Derrite;
As transferências, nomeações e exonerações foram publicadas no Diário Oficial desta quarta-feira, um dia depois de a "Operação Escudo 2" da PM na Baixada Santista chegar a 29 mortos e ultrapassar o número da mortos de operação similar ocorrida no ano passado na mesma região.
Sob Derrite, a letalidade da PM-SP voltou a crescer. Ele reverteu uma tendência de queda que vinha desde 2020 e que havia cortado praticamente à metade as mortes por intervenção policial no estado. Em 2023, primeiro ano do governo Tarcísio e de Derrite como secretário da Segurança, os mortos por policiais chegaram a 540 pessoas: 63 corpos a mais, ou um aumento de 13% em comparação a 2022. A escalada de violência continua este ano.
Em janeiro de 2024, a polícia matou 60 pessoas no estado de São Paulo. Foram 19 a mais do que um ano antes e dois terços a mais do que em janeiro de 2022.
Nos primeiros 20 dias de fevereiro de 2024, policiais mataram 70 pessoas, 29 a mais do que um em todo o mês de fevereiro do ano passado e, impressionante, mais do que o dobro de mortes registradas em fevereiro de 2022.
- Como o mês ainda não acabou, o crescimento deve ser ainda maior.
A comparação de fevereiro com janeiro de 2024 mostra uma aceleração da letalidade policial. Antes mesmo de o mês acabar, fevereiro já alcançou o patamar de mortes pré-redução da letalidade policial.
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Quero receberNa grande maioria dos casos (121 de 130, em 2024), as pessoas foram mortas por policiais militares.
A diminuição da mortes pela polícia entre 2021 e 2023 coincidiu com a adoção das câmeras corporais nos uniformes da PM-SP, uma medida da qual Derrite não é exatamente um fã.
As estatísticas, o Congresso e, agora, o Diário Oficial mostram que Derrite está em alta. Conseguiu fazer boa parte dos policiais seguir sua ideologia profissional, aprovou uma lei que o deixará ainda mais popular junto ao seu eleitorado e arrancou do governador Tarcísio de Freitas mudanças na PM-SP que o deixarão ainda mais poderoso.
A ver se esse poder e influência se estenderão à indicação do futuro procurador-geral de Justiça do Estado. A pessoa que vier a substituir Mario Sarrubbo (que vai assumir a Secretaria Nacional de Segurança Pública do governo federal) ocupará um cargo fundamental, inclusive para supervisão e controle do trabalho policial e letalidade da polícia.
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