Lulistas concordam com bolsonaristas em tema crucial para governo
Lulistas e bolsonaristas discordam em quase tudo. Quando se trata de avaliar o governo, então, a discordância é total: o que uns aprovam, os outros rejeitam quase na mesma proporção. Por isso, quando pesquisas de opinião descobrem um raro ponto de vista comum entre os grupos antagônicos, é bom prestar atenção. O Ipec (ex-Ibope) acaba de fazer uma dessas descobertas.
Em levantamento presencial nacional feito neste mês de abril, os pesquisadores do Ipec perguntaram aos brasileiros de 18 anos ou mais se o preço dos alimentos havia aumentado, ficado igual ou diminuído nos últimos meses. Nada menos do que 79% responderam que o preço da comida tinha subido. Só 9%, que havia caído.
Por si só, essa informação já deveria preocupar o Palácio do Planalto. Afinal, sempre que a carestia de alimentos aparece, a popularidade do governo sai pela outra porta. As más notícias não pararam por aí. A pesquisa do Ipec mostra que o efeito negativo sobre avaliação do governo é persistente, ele se estende além do período mais crítico da alta dos preços.
Em março, a inflação de alimentos medida no IPCA havia desacelerado. Alguns itens da cesta caíram de preço, e os que subiram, subiram menos do que em janeiro e fevereiro. Mas essa desaceleração não bastou para mudar o ponto de vista dos brasileiros sobre a carestia de alimentos - inclusive o ponto de vista da grande maioria dos brasileiros que votaram em Lula.
Para dois terços dos lulistas, o custo da alimentação cresceu nos últimos meses: 68% responderam ao Ipec que os preços aumentaram, contra 16% que disseram que eles caíram.
Para quase a totalidade dos bolsonaristas, 91%, os alimentos ficaram mais caros. Só 3% responderam que houve queda.
Embora haja diferença de 23 pontos percentuais na percepção de lulistas e bolsonaristas sobre o encarecimento dos alimentos, chama mais atenção que a concordância entre os dois eleitorados sobre carestia é três vezes maior do que a discordância. Sugere que o limite da ideologia são a fome e a vontade de comer.
Lula e companhia estão preocupados com o assunto e não escondem. O aumento do preço dos alimentos foi discutido até com interlocutores de fora do governo, como o MST (cujas cooperativas são importantes produtores de alimentos básicos, como arroz). O problema é que as medidas que o governo pode tomar vão demorar para fazer efeito - só na próxima safra.
Até lá, o destino do preço dos alimentos estará nas mãos dos agricultores, dos atravessadores e dos deuses da chuva. Talvez por isso, os brasileiros não estejam otimistas. Dois em cada três acham que o custo da comida vai continuar subindo. E nisso, eleitores de Lula e de Bolsonaro também concordam.
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