Lirinha paz e amor? Governo dobra emendas após Lula falar com Lira
Lula vai levar a fama, mas o mérito é mesmo do dinheiro. Depois de se encontrar a sós com Arthur Lira no domingo, o presidente da República parece ter operado um milagre. Maior pedra no sapato do governo, o presidente da Câmara dos Deputados parece outra pessoa depois que falou com Lula no Palácio do Alvorada. Disse até que errou ao criticar ministros do presidente. E na Globo. Lira virou "Lirinha paz e amor". Mágica?
Não. São as emendas, querido!
- Desde domingo, o governo já empenhou mais de R$ 4,9 bilhões em emendas de deputados e senadores ao Orçamento Geral da União;
- Em menos de três dias, o governo liberou o dobro do que havia liberado na semana anterior (R$ 2,4 bilhões entre 15 e 19 de abril);
- A soma dos últimos 12 dias é quase 17 vezes o que o Executivo liberara para o Legislativo ao longo de todo o ano de 2024 até 12 de abril;
- O conta-gotas dos primeiros 103 dias do ano virou uma torneira na semana passada; e a torneira virou uma torrente de dinheiro público após o encontro de Lula com Lira no domingo;
- É improvável que o fluxo volte ao do conta-gotas: os R$ 7,8 bilhões liberados até esta quarta-feira pela manhã são meros 17% do valor das emendas previstas para o ano de 2024;
- Os congressistas - Arthur Lira à frente - esperam ver liberados mais R$ 37 bilhões, de preferência antes da eleição.
Tudo resolvido? Nem tanto. Houve maldades no meio do caminho, e elas deixaram mágoas.
O "Lirinha Paz e Amor" é tão cenográfico quanto o "Lira bicho-papão". O presidente da Câmara troca de figurino com a mesma facilidade com que troca de palanque. Basta o governo voltar a fechar a torneira de emendas para ressuscitar o antigo personagem - ou não atender as demandas mais paroquiais do presidente da Câmara.
Lula precisou amansar Lira pessoalmente no domingo porque a articulação política do Palácio do Planalto, entre outras coisas, havia preterido o partido de Lira na distribuição de emendas na semana passada. Seu PP ficou em 10º lugar no ranking dos partidos que mais receberam recursos de emendas entre 15 e 19 de abril, apesar de ter a 4ª maior bancada na Câmara dos Deputados.
O governo havia priorizado as emendas de parlamentares do PT, PSD e MDB - partidos que o governo pretende usar como cunha para rachar a base de apoio a Lira no Congresso. O plano é eleger um novo presidente da Câmara em fevereiro que não seja cria de Lira. Lira sabia, mas viu uma oportunidade na obviedade da manobra palaciana.
Ele voltou do Palácio da Alvorada com a promessa de recompensa. No mais clássico jogo "policial mau, policial bom", os ministros morderam, Lula assoprou. E como: o sopro foi de mais de meio bilhão de reais em emendas individuais de deputados e senadores do PP de Lira. Tudo isso liberado entre segunda e quarta-feira.
Paz e amor: Lira destravou a pauta econômica de interesse do governo na Câmara e ainda fez um "mea culpa" público. Mas política é como nuvem, dizia o mineiro. Muda num instante.
A paz e o amor entre o presidente da Câmara e o governo é proporcional à abertura da torneira de emendas parlamentares.
Colaborou: Luiz Fernando Toledo.
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