Capitalismo sem risco dirige o transporte público em São Paulo
"A justificativa moral do capitalismo é o risco". A frase atribuída à primeira-ministra britânica Margaret Thatcher prega o óbvio: quando uma empresa privada investe em um negócio, ela pode ganhar ou perder. A incerteza é do jogo, em tese. Na prática, nem sempre. No Brasil, menos ainda.
Quando promoveu um dos maiores programas de privatização do mundo nos anos 80 do século passado, Thatcher dizia que, com as empresas privadas no comando, coisas boas aconteceriam:
* O gasto público diminuiria
* O serviço seria melhor e mais eficiente
* A propriedade dos negócios seria democratizada
A bandeira liberal de Thatcher foi tropicalizada nas décadas seguintes. Os governos Collor e FHC impulsionaram as privatizações de serviços públicos no Brasil, com diferentes graus de sucesso e também de insucesso: as interrupções na distribuição de energia elétrica pela Enel são tão constantes que motivaram CPIs em vários estados.
Já os transportes metropolitanos sobre trilhos se tornaram a antítese das premissas de Thatcher: o estado continua pagando bilhões de reais por um serviço ineficaz, ineficiente e cuja propriedade é concentrada por filhotes de contumazes recebedores de dinheiro público, as empreiteiras.
A repórter Juliana Sayuri, do UOL, investigou como ninguém tinha investigado antes a caixa preta do Bilhete Único em São Paulo. Descobriu algo que deixaria Thatcher com os cabelos ainda mais em pé: a tarifa paga pelos usuários vai para um caixa único e sofre, então, uma distribuição desproporcional. A maior parte do dinheiro vai para as empresas privadas, que transportam menos gente. Só então as empresas públicas, como o Metrô, que transportam o grosso dos passageiros, recebem o que sobra. Não, não é desvio, é capitalismo sem risco por contrato.
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