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Opinião

Conexões dos Brazão vão muito além do assassinato de Marielle

As conexões políticas dos irmãos Brazão vão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha ao prefeito carioca Eduardo Paes, do ex-governador Sérgio Cabral a vereadores e deputados estaduais que ostentam a marca "Brazão" em campanhas eleitorais, de delegados e oficiais das polícias a conselheiros de tribunais e procuradores de Justiça. Abrangem quase todos os títulos que as funções de Estado têm a oferecer. A montagem dessa rede foi feita com afinco pelos irmãos ao longo de três décadas.

Durante a campanha eleitoral de 2010, o chefe do clã Brazão, Domingos - o mais novo de três irmãos homens - levou Eduardo Cunha para amassar barro e caçar votos pelas vielas mais pobres de comunidades de Jacarepaguá na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Eram do mesmo partido, o MDB, e ambos estavam em ascensão.

Três dias depois, Domingos estava na Cinelândia, no centro da cidade, fazendo campanha para Dilma Rousseff, cujo candidato a vice, Michel Temer, era do mesmo MDB de Brazão, Cunha, Cabral e companhia. A afinidade com a futura presidente era mais de conveniência do que ideológica. Quando Cunha detonou o impeachment de Dilma e alçou o MDB ao comando do Executivo federal, os Brazão e o partido estavam com ele, não com ela.

Na Assembleia Legislativa do Rio, a atuação de Domingos Brazão era muito mais parecida com a de seu então colega de plenário, Flavio Bolsonaro. Votavam juntos em muitas ocasiões e tinham o mesmo hábito de dar medalhas a policiais que viriam depois a ser presos. Flavio condecorou o PM Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime. Domingos homenageou o delegado Marcos Cipriano quando este era chefe da Polinter. Em 2022, Cipriano foi preso sob a acusação de ser integrante da quadrilha de Rodrigo Andrade, a mesma de Ronnie Lessa.

Flávio Bolsonaro foi eleitor de Domingos Brazão para ele vir a assumir a vaga de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio - um posto de onde viria a ser afastado provisoriamente pela Justiça junto com quase todos os colegas, tamanha as estripulias que ali aconteciam.

O que a história do clã Brazão mostra é que seus chefes sabem muito não apenas sobre o crime que matou Marielle. Eles conhecem e participam da trama que interfere e, por vezes, comanda todas as principais instituições do Rio de Janeiro. Da Câmara Municipal à Assembleia Legislativa, passando por quase todos os palácios da cidade. Sua prisão vai além do simbolismo. Se seguirem o mesmo caminho dos executores do assassinato de Marielle e contarem o que sabem, a venda de remédios para dormir vai aumentar intensamente no Rio, do Leme ao Pontal.

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