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Opinião

É o prato, querido; preço dos alimentos janta popularidade de Lula

O marqueteiro James Carville entrou para a História com a frase "É a economia, estúpido!", que sintetizava a estratégia da campanha presidencial vitoriosa do Bill Clinton na eleição de 1992 nos Estados Unidos. Para o Brasil, a frase precisa ser devidamente tropicalizada: "É o prato, querido!".

A popularidade dos presidentes brasileiros depende, principalmente, do poder de compra da população. Mais especificamente, da variação dos preços dos alimentos. Eles são responsáveis por mais de 21% da inflação medida pelo IPCA. Nada tem peso maior no bolso da maioria absoluta da população. Se o custo da alimentação sobe, a popularidade presidencial cai.

Por isso, a desaceleração da inflação do preço dos alimentos é uma boa notícia para o governo. Ela caiu quase à metade entre fevereiro e março, de 0,95% para 0,53%. Mas é cedo para Lula comemorar. A queda precisa continuar por alguns meses para afetar a popularidade presidencial.

Quais são as evidências de que é mesmo o prato, querido?

Vários estudos acadêmicos feitos sobre a crise dos preços dos alimentos em 2008 no Brasil constataram que a popularidade presidencial pode ser significativamente piorada pela inflação alimentar. Ao contrário do desemprego, que afeta uma parcela da população, a inflação impacta todos os cidadãos. Todo mundo come, ou deveria comer.

O que era verdade em 2008, continua verdadeiro em 2023 e 2024. Em setembro passado, a popularidade do governo Lula atingiu seu ponto mais alto, segundo o Ipec (ex-Ibope): 40% de ótimo+bom contra 25% de ruim+péssimo. Seis meses depois, veio o ponto mais baixo. Em março passado, Lula tinha 33% de ótimo+bom e 32% de ruim+péssimo. O que mudou de lá para cá?

Em setembro de 2023, a inflação acumulada da alimentação no domicílio acumulava queda de 0,8% em 12 meses. Ou seja, no conjunto, o custo de se alimentar havia diminuído. A cebola tinha ficado 27% mais barata, o frango caído 14%, a carne barateado 11%, por exemplo.

Em março de 2024, a situação se invertera. O prato tinha ficado 2,5% mais caro, no geral. Mas, para alguns ingredientes fundamentais na alimentação do brasileiro, a carestia tinha sido muito maior. Entre abril de 2023 e março de 2024, a lista dos alimentos cujos preços dispararam era grande:

Arroz: + 28% em 12 meses;

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Feijão preto: + 22%;

Batata: + 39%;

Cebola: + 37%

Hortaliças e legumes: + 11%.

Como diriam os economistas, porém, a tendência é os preços desacelerarem. Na margem, ou seja, em março apenas, o arroz, a carne e a batata ficaram mais baratos, por exemplo. Mas, para ter efeito político, a tendência precisa se concretizar.

Essa variação negativa dos preços de um mês para outro já tinha sido sentida no bolso dos consumidores quando as pesquisas de avaliação do governo foram a campo, em março. E não ajudou a melhorá-la. Um mês sozinho não traz popularidade. A questão é o que vai acontecer em abril, maio e junho.

Se e tão somente a tendência de desaceleração e eventual queda do preço dos alimentos se mantiver é que Lula e companhia podem esperar melhora de avaliação. Apesar de o clima ter sido cruel para algumas culturas, o governo pode tentar minimizar o problema aumentando recursos para a agricultura familiar, melhorando condições de transporte e comercialização para os alimentos que frequentam o prato dos brasileiros.

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Vale o esforço. Prato cheio para a maioria da população significa governo mais popular e com cacife para enfrentar as chantagens do Congresso e dos lobbies empresariais.

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

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Veja abaixo o programa na íntegra:

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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