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Reportagem

O gênio por trás da impunidade dos golpes online

As chamadas Big Techs, corporações trilionárias que expandem cada vez mais seu domínio do mundo virtual para o real, gostam de comparar suas plataformas digitais a praças públicas. Nelas, você pode falar o que quiser, e, preferencialmente, comprar o que qualquer um tentar lhe vender, mesmo que não entregue.

Nessa utopia comercial-libertária, golpistas trafegam com liberdade, sem serem importunados. Os ambientes digitais podem parecer com praças, mas não são públicos. São territórios privados e livres de policiamento. Têm donos que querem impor seus próprios termos de uso sobre as legislações nacionais. Se você for roubado, engambelado, assediado ou fraudado, grite. Ninguém vai ouvir e intervir - mas o mimimi é livre, diriam.

A liberdade de comunidade com seus termos de conduta particulares sobrepostos às leis não é o que mais se destaca nesses "marketplaces" digitais, porém. É o empreendedorismo de facção criminosa. As gangues tecnológicas são organizadas, metódicas, impunes e, mais importante para os donos da praça, são anunciantes. Ricos anunciantes.

A repórter Camille Lichotti nos conta como os golpistas virtuais gastam milhões de reais para filtrar seus alvos dentro dos bancos de dados de empresas como a Meta. Assim, ganham acesso a milhares de potenciais compradores que querem aquele exato produto. E na hora certa, quando estão mais propensos a comprá-los. O negócio é fechado, o comprador paga, o golpista embolsa a grana, a Meta fica com sua parte, e a mercadoria nunca chega.

"É um crime perfeito", diz Camille. O dono da praça afirma que age para coibi-lo, mas não mostra como. E quando recebe queixas de pessoas que foram defraudadas, repete que não é com ele: não posso ser responsável pelo anúncio que colaram na minha praça. Mas os criminosos pagaram para expor o anúncio lá, e a Meta ainda deu uma tremenda ajuda direcionando o anúncio golpista para as pessoas com o perfil desejado pelos criminosos.

A Justiça faz pouco ou quase nada porque a legislação é omissa, os criminosos não deixam pistas, e o dono da praça não publica os dados de todos os anúncios que veicula e ajuda a direcionar. É um grande negócio. Só dois atores sabem o quanto, mas eles não contam: os golpistas e os donos da praça. Camille descobriu que apenas um golpista gastou mais de R$2 milhões em anúncios em poucos meses. É a prova que dá lucro. E não só para o golpista. Ouça já.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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