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Opinião

Haddad aproveita resultado das urnas e se move para o centro

Fundador e dono do PSD — partido que mais cresceu, que mais elegeu prefeitos e que gastou proporcionalmente menos na campanha em 2024 —, Gilberto Kassab constatou que o "centro venceu" as eleições e tratou mandar um recado aos governantes seus aliados, à direita e à esquerda: "nosso crédito aumentou".

O centro, para Kassab, é o que os físicos chamam de superposição quântica. O PSD, como uma partícula subatômica, pode existir em múltiplos estados e lugares simultaneamente: ser governo e oposição, estar à direita e à esquerda, apoiar Lula e Bolsonaro — tudo ao mesmo tempo.

Na política, isso se traduz como vitória da realpolitik. Mais Bismarck e menos Marx (ou Mises). Menos ideologia e mais realismo. Menos ideais e mais resultados. Menos radicalismo e mais alianças. Mais fisiologismo, mas não só. É bailar conforme a música sem tirar os pés do chão. Não deixa de ser um feito.

Kassab não foi o único a entrar na dança do pragmatismo político após avaliar o resultado das urnas. Rival e dono do PL, Valdemar Costa Neto também percebeu que o caminho de seu partido no futuro é menos Bolsonaro e mais Rogerio Marinho. Disse preferir o senador potiguar a Eduardo Bolsonaro como sucessor (se um dia vier a faltar). E por quê? A resposta é meio óbvia.

Tanto Bolsonaro quanto Marinho são políticos profissionais, mas só Marinho pode ser chamado de profissional na política. Formalmente, Valdemar quer "exportar" Eduardo: "(…) atue como um embaixador internacional do PL". Bem longe do centro do poder. Prefere Marinho porque sabe que, para o PL crescer suas chances eleitorais em 2026, o partido precisa se aproximar do "centro".

Valdemar, mesmo elogiando, aproveitou para chamar de "radical" expoentes ideológicos do PL, como Nikolas Ferreira. São os que fazem campanha contra o PSD de Kassab e não aceitam alianças eleitorais com partidos que não sejam francamente de direita.

Outro que leu corretamente as urnas e agiu rapidamente foi o presidenta da Câmara, Arthur Lira (PP). Percebeu o PSD e Kassab fortalecidos e tratou de propor uma aliança para elegerem juntos seu sucessor no segundo cargo mais importante da República - antes que o governo fizesse a mesma coisa.

O problema é que Lira não abre mão de eleger Hugo Motta (Republicanos) para substituí-lo, e Kassab tem chance de emplacar um deputado do seu partido, Antônio Brito. Lira demonstra pressa para fechar a aliança. Kassab não.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad tem uma nova agenda de reformas que precisa aprovar no Congresso. O conteúdo ainda depende do aval de Lula, mas não será muito popular. Passa por rever benefícios sociais como o BPC e o seguro-desemprego — embora o que vá chamar mais atenção é a tentativa de regulamentar os super salários do Judiciário.

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A agenda de corte de gastos é um movimento de Haddad também para o centro. Agrada ao mercado financeiro e ao empresariado, que preferem ver o governo diminuir despesas a aumentar impostos. A eventual melhora das contas pode aumentar a nota de crédito do Brasil, atrair investimentos, derrubar o dólar e criar espaço para o futuro presidente do Banco Central, que ele indicou, cortar a taxa de juros. Mas tudo isso demora.

Por isso, Haddad tem pressa para aprovar a nova agenda no Congresso. Só agindo rápido os eventuais efeitos positivos para a economia têm chance de aparecerem antes da eleição de 2026.

Para aprovar medidas impopulares, Haddad precisará de apoio tanto do centro quântico de Kassab quanto do sucessor de Lira. Caberá a ele colocar as propostas do governo em votação ou não.

Por isso, a guinada ao centro anunciada por Haddad tem um outro objetivo tático: aumentar a influência do governo na sucessão de Lira. Como? Negociando com o futuro presidente da Câmara, seja ele quem for, o compromisso de votar a nova agenda.

Como se vê, nada na política é por acaso. Nenhuma entrevista, nenhuma informação soprada a jornalistas, nenhuma frase aparentemente despretensiosa. São peças de movendo no tabuleiro para armar uma jogada que ainda está a muitos lances de um desfecho. Haddad, Kassab, Lira e Valdemar estão bailando no tabuleiro sem tirar os pés do chão. Quem pisar em falso perde.

O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

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Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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