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Opinião

Bolsonaro preferiu perder eleições para não perder sua militância

O PL de Valdemar Costa Neto foi um dos vencedores da eleição no segundo turno. Ganhou na urna o direito de governar mais seis cidades grandes e 2,7 milhões de eleitores. Foi o terceiro melhor resultado entre todos os partidos que tinham candidatos disputando no domingo passado. Só ficou atrás do PSD e do MDB.

O partido que paga seu salário ganhou, mas Jair Bolsonaro perdeu. Perdeu porque, em cidades como Curitiba, preferiu ir contra o PL, que tinha indicado o vice na chapa vencedora (encabeçada pelo PSD), para apoiar a candidata do minúsculo PMB.

Já tinha feito igual em São Paulo, no primeiro turno, quando não endossou a candidatura de Ricardo Nunes (MDB) e ficou com um pé na de Pablo Marçal (do também nanico PRTB). Por quê?

Bolsonaro não errou no cálculo. Perdeu porque quis. De caso pensado. Trocou o eleitor pela militância, com medo de perdê-la.

As eleições municipais foram um marco no enfraquecimento do bolsonarismo. As pautas ideológicas perderam para as pautas fisiológicas. Venceu o "é emendando que se recebe".

Os mais de R$ 30 bilhões, distribuídos por deputados e senadores antes da eleição começar, selaram uma taxa recorde de reeleição de prefeitos, superior a 80%. Venceram os partidos que comandaram o "emendismo" no Congresso: PSD, MDB, PP, União Brasil e Republicanos, e a ala fisiológica do PL de Valdemar.

Além de ter perdido importância para o "emendismo", Bolsonaro viu novas lideranças de direita nascerem, como nos casos de Pablo Marçal e Nikolas Ferreira (PL-MG), ou renascerem, como no caso de Ronaldo Caiado (União Brasil-GO). Perdeu duplamente.

A opção por privilegiar a militância em detrimento do eleitor tem inspiração em outros movimentos de extrema direita populista no mundo, principalmente no trumpismo. Nos EUA, engajar e energizar o militante aumenta seu comparecimento à urna. No Brasil, isso funciona menos porque o voto é obrigatório.

Há ainda outro fator muito importante para a atitude kamikaze de Bolsonaro. Segundo a cientista política Camila Rocha, umas das principais pesquisadoras da direita no Brasil, é indispensável para Bolsonaro manter sua militância engajada nas redes digitais mas também nas ruas. Comícios cheios são parte fundamental da mítica do bolsonarismo. Seu esvaziamento seria letal.

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O problema de Bolsonaro optar pela militância em vez do eleitor mais de centro é que a direita tradicional se convenceu de que não precisa mais dele para ter poder. A derrota eleitoral de Bolsonaro vai custar não só prefeituras. Deve enterrar de vez a tão almejada anistia do Congresso aos bolsonaristas. Bolsonaro pode ter selado, assim, a sua aposentadoria como presidenciável com sua aposta que preteriu a urna. Faz sentido.

O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

Opinião

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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