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Josias de Souza

Novela do Brasil na OCDE está apenas no começo

Colunista do UOL

15/01/2020 23h52

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A notícia de que os Estados Unidos decidiram, finalmente, formalizar o apoio ao ingresso do Brasil na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é boa e ruim ao mesmo tempo. É boa porque retira da face de Jair Bolsonaro a aparência de bobo que Donald Trump havia grudado nela ao preterir o Brasil para favorecer a Argentina. É ruim porque o Brasil teve de fazer concessões à vista em troca de benefícios hipotéticos que, se vierem, só serão resgatados num longo prazo. A novela está apenas começando. Há capítulos tensos pela frente.

Foi preciso que a Argentina, agora sob a nova velha administração da dupla Fernándes-Kirchner, desdenhasse do apoio da Casa Branca para que Trump se lembrasse do amor que Bolsonaro sente por ele. O Brasil fez meia dúzia de concessões, inclusive comerciais, em troca do aval dos Estados Unidos. As concessões foram da liberação de visto para turistas ao favorecimento de produtores americanos de trigo e etanol.

No capítulo mais ruinoso das concessões, o Brasil teve de abrir mão do status de país em desenvolvimento na OMC, a Organização Mundial do Comércio. Com isso, perdeu vantagens tarifárias. Mas continua sendo um país subdesenvolvido. E não perderá essa condição mesmo que seja aceito na OCDE. O mais lógico seria que o Brasil se mantivesse no cenário internacional ao lado de outros países em desenvolvimento, zelando pelo equilíbrio das regras do comércio mundial.

Autoridades do governo alegam que o ingresso na OCDE asseguraria para o Brasil uma espécie de selo de boas práticas econômicas. É conversa fiada. A Grécia integra o grupo. E isso não impediu que o país fosse à breca. De resto, o processo de aceitação de novos sócios no clube dos ricos é longo e tende a ser penoso.

O apoio de Trump é importante mas não basta. É necessário obter o aval de todos os 36 países-membros. O candidato precisa aceitar um sem-número de regras. Há na entidade, por exemplo, um fortíssimo comitê de políticas ambientais. É improvável que países como França, Alemanha e Noruega facilitem a vida de Bolsonaro. Vêm aí fortes emoções.