Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Cotovelada em Simone Tebet envelhece fator democrático

A política produz gratidões cínicas. Quando Simone Tebet envernizou com o seu apoio a frente ampla que se formou em torno de Lula no segundo turno de 2022, dizia-se que ela poderia ser o que quisesse no futuro governo petista. Passada a eleição, Simone quis a pasta do Bolsa Família. Levou uma rasteira do PT. Empurrada para o Ministério do Planejamento, harmonizou-se com o petista da Fazenda Fernando Haddad. Pelo bom comportamento, recebe agora uma cotovelada de Lula. No governo da pacificação, Simone já não dispõe de paz nem para compor a própria equipe.

À procura de um presidente para o IBGE, Simone recebeu de Lula uma sugestão com ares de fato consumado. Em vez de entregar o cargo a um técnico dos quadros do próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, como planejou, a ministra terá que nomear o economista Márcio Pochmann, que já comandou o Instituto Lula e a Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT. O personagem teve turbulenta passagem pelo Ipea entre o segundo mandato de Lula e o primeiro de Dilma. Numa gestão intervencionista, expurgou pensadores divergentes e encostou o Instituto de Pesquisa Econômica no desenvolvimentismo criativo do PT.

Num requinte de malignidade, Lula acomodou nos lábios do ministro petista Paulo Pimenta, que chefia a Comunicação da Presidência, um comunicado que caberia a Simone Tebet fazer. No início da noite desta quarta-feira, Pimenta disse aos repórteres que o companheiro Pochmann será mesmo enfiado no comando do IBGE. É como se Lula, às voltas com uma meia-sola ministerial que enfiará mais centrão na Esplanada, desejasse mostra a porta de saída à ministra do MDB.

No segundo turno de 2022, Lula fez acenos ao centro num documento chamado "Carta do Amanhã". Dias depois de receber o apoio de Simone Tebet, Lula enrolou-se na bandeira da defesa da democracia para pronunciar no palco do Teatro Tuca, na PUC de São Paulo, o célebre discurso no qual declarou que não faria "um governo do PT", pois pretendia governar para "além do PT".

O risco associado à continuidade de Bolsonaro foi decisivo para que Lula prevalecesse com a magra diferença de 1,8% dos votos. Juntaram-se aos eleitores petistas os brasileiros que votaram em Lula para evitar mais quatro anos do capitão. Mas se a crueldade dedicada a Simone Tebet serve para alguma coisa é para demonstrar que o fator democrático envelheceu precocemente.

A cinco meses do Natal, a tese segundo a qual Lula governaria escorado numa frente ampla ficou muito parecida com Papai Noel. A imagem é bonita. Mas não passa de uma fantasia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

99 comentários

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.


Antônio Gomes Carneiro Júnior

A MINISTRA AGORA TEM UM NOVO LEMA: QUEM COM PORCOS SE MISTURA, FARELOS COME...     RSRSRSRSRSR        OU NÃO???

Denunciar

Geraldo Martins Lopes

A cara de surpresa dos agentes da mídia que ajudaram a levar um comprovado farsante á presidência da República é uma coisa deprimente.

Denunciar

Carlos Alberto dos Santos

Qual a novidade? Esse é o Janjo acomodando os parças no IBGE, STF, BRICS, BNDES, etc. Sabe a história da mulher de malandro?

Denunciar