Josias de Souza

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Opinião

Sanção de Lula à ozonioterapia ofende o eleitor e desafia Nísia

A vida nacional ficou mais leve quando Lula entregou o Ministério da Saúde para Nísia Trindade. A leveza foi proporcionada pela percepção de que o governo voltaria a respeitar a ciência. Ao sancionar o projeto que converteu em lei o uso da ozonioterapia como tratamento complementar contra doenças variadas, Lula ofendeu o eleitorado e mostrou a porta de saída para sua ministra da Saúde.

A ofensa atinge sobretudo os eleitores que, mesmo não gostando de Lula e cultivando um sentimento antipetista, votaram no adversário de Bolsonaro para evitar a continuidade do desastre por mais quatro anos. A eficácia da ozonioterapia não foi atestada cientificamente. Lula como que convidou Nísia a refletir sobre a conveniência de se manter no cargo ao ignorar a recomendação da pasta da Saúde para que vetasse a proposta.

Em 2018, sob Michel Temer, o então ministro da Saúde Ricardo Barros, um deputado bolsonarista, incluiu a ozonioterapia entre as técnicas contempladas pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde. Mas o ministério teve que restringir a cobertura à área odontológica, desde que o tratamento seja feito com aparelhos registrados e autorizados pela Anvisa. Fora disso, o uso da ozonioterapia "configura infração sanitária", diz a Anvisa.

Dias atrás, Lula retirou Nísia Trindade da frigideira. Descartou a hipótese de incluir a pasta da Saúde na meia-sola que aplica em sua equipe ministerial, para entregar cofres novos ao centrão. Deu a impressão de que rendia homenagens ao histórico da ministra. No comando da Fiocruz, Nísia manteve a fundação longe do terraplanismo anticientífico de Bolsonaro. Coordenou o acordo da Saúde com a AstraZeneca e a Universidade de Oxford, que resultou na produção de vacina contra a covid.

De repente, em plena era da inteligência artificial, o mesmo Lula que se elegeu cavalgando a aversão do eleitorado ao uso da cloroquina como poção mágica de grande utilidade na pandemia da "gripezinha", rende-se à ignorância natural de Bolsonaro.

Ironicamente, a ozonioterapia compôs, em sua versão retal, o charlatanismo dos devotos do capitão no auge do contágio da covid. Se o Brasil fosse um país lógico, Nísia atravessaria sobre a mesa de Lula um pedido de demissão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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