Josias de Souza

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Opinião

Primeira utilidade do voto útil é poder botar a culpa em alguém

A barricada erguida por Tabata Amaral para defender o seu cesto de votos é tão legítima quanto o movimento que tenta converter os simpatizantes da quarta colocada nas pesquisas em eleitores de Guilherme Boulos. Numa democracia, até o voto errado é útil, pois carrega um fator de aprendizado. Quanto ao voto tático, sua primeira utilidade é oferecer a um candidato em apuros a possibilidade de botar a culpa em alguém.

Incomodado com as cobranças de Tabata para que explique suas mudanças de posição em relação a temas como aborto, drogas e Venezuela, Boulos se queixa da falta de sensibilidade para o risco de um segundo turno em São Paulo com dois conservadores, um deles de viés troglodita. "Somos dois candidatos do campo progressista enfrentando dois representantes do bolsonarismo", afirma. Cobra um compromisso qualquer de Tabata, mas sonega a si mesmo uma autocrítica sobre as debilidades do seu comitê. E silencia diante do déficit de Lula na sua campanha.

Boulos fez do apoio de Lula sua principal aposta. O cabo eleitoral deixou a desejar. Afora as aparições na propaganda eletrônica, Lula deu as caras apenas um dia, participando de dois comícios. Alheio às pesquisas que colocam Ricardo Nunes à frente do seu pupilo na periferia, cancelou dois comícios na semana passada. Nesta quarta-feira, cancelou a aparição ao vivo numa live. Correndo contra o relógio, Boulos ainda espera caminhar ao lado de Lula na Avenida Paulista, no sábado, véspera da eleição.

A ausência de Lula é apenas parte do problema. Boulos como que terceirizou a Tabata o enfrentamento judicial contra as redes sociais de Pablo Marçal, anabolizadas com recortes remunerados. Fez uma campanha de contornos analógicos. Prometeu "um banho de povo" nas ruas. Mal conseguiu mobilizar a militância do PSOL e do PT. Chega à reta final como estrela de carreatas esvaziadas por bairros periféricos que, nas pesquisas, sorriem para o prefeito.

A essa altura, atribuir a terceiros, como Tabata Amaral, o risco do fiasco que seria um segundo turno 100% direitista tem a aparência de um estratagema para atingir o subterfúgio de terceirizar culpas.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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