Na cúpula do Brics, Lula bateu palmas para Xi Jinping dançar
Quando surgiu, há quase duas décadas, o Brics se guiava pela lógica da cooperação econômica entre economias emergentes. O viés econômico foi potencializado em 2014, com a criação de um banco de desenvolvimento do bloco. A 15ª Cúpula do Brics, encerrada nesta quinta-feira em Joanesburgo, marca uma inflexão. O grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul engordou e ganhou contornos geopolíticos e ideológicos mais nítidos.
Ao voar para a capital sul-africana, no domingo, Lula imaginou que exerceria no encontro o protagonismo internacional que ambiciona desde que anunciou ao mundo, antes mesmo da posse, que o Brasil voltou ao cenário internacional. Teve que se contentar com o papel de coadjuvante do chinês Xi Jinping.
A principal novidade da cúpula foi a expansão do Brics de cinco para 11 membros. Foram admitidas no bloco duas economias em frangalhos (Argentina e Etiópia), uma teocracia (Irã) e três ditaduras árabes (Arábia Saudita, Emirados Árabes e Egito). No novo formato, moldado ao gosto de Pequim, o bloco ganha a aparência de plataforma de lançamento dos interesses da China na guerra anti-hegemônica que trava com os Estados Unidos.
Xi Jinping mostra suas cartas no Brics num instante em que o presidente americano Joe Biden celebra no quintal da China uma aliança tríplice com Japão e Coreia do Sul. O acerto foi tratado pela agência estatal de notícias da China como uma "tentativa desesperada (dos Estados Unidos) de recuperar seu poder hegemônico".
A diplomacia é um jogo de aparências. Ao avalizar a engorda do Brics, o Brasil passa a impressão de que participa de um balé de elefantes na condição de espectador. É como se Lula batesse palmas para Xi dançar. Em troca da contradança, recebeu um compromisso vago, hipotético e inverossímil do governo chinês de apoiar a velha pretensão do Brasil de ganhar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
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