Josias de Souza

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Ao desconvocar Antony, técnico Diniz ministrou uma lição a Lula

Frasista esmerado, Antonio Franco de Oliveira, o Neném Prancha, ensinou: "Pênalti é tão importante que quem devia cobrá-lo era o presidente do clube". Em decisão avalizada pelo mandachuva da CBF Ednaldo Rodrigues, o técnico da Seleção Brasileira Fernando Diniz fez um golaço ao desconvocar Antony horas antes da apresentação do atacante para os jogos contra Peru e Bolívia, válidos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Ao chutar Antony, Diniz ministrou uma lição involuntária a Lula no caso que envolve o ministro Juscelino Filho (Comunicações).

Antony foi à marca do pênalti no instante em que vieram à luz, em reportagem do UOL, áudios e vídeos contendo detalhes sobre as acusações de violência doméstica do jogador do Manchester contra sua ex-namorada Gabriela Cavallin. Numa conjuntura em que as agressões de jogadores contra mulheres viraram arroz de festa, Diniz agiu com a velocidade de um raio. Livrou-se de Antony antes que a preservação de sua convocação se convertesse num processo de dispersão de uma seleção cujo desempenho exige concentração exclusiva na bola.

De quebra, Diniz rendeu homenagens à arquibancada, que não merece o convívio com a suspeição de atos indignos. Poupou também o jogador, que terá maior disponibilidade para se defender. Se o inquérito comprovar a alegada inocência, Antony recolocará sua carreira nos trilhos. Nessa hipótese, nada impede que retorne à Seleção em futuras convocações.

Mal comparando, o caso de Juscelino Filho também se apresenta para Lula como um pênalti à espera de cobrança. Enrolado numa investigação da Polícia Federal sobre malversação de verbas públicas enviadas a municípios do Maranhão por meio de emendas penduradas no Orçamento federal, o ministro amargou um bloqueio de bens de R$ 835 mil ordenado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso.

Se Lula apreendesse a lição de Diniz, perceberia que o tempo da política não segue —ou não deveria seguir— a lentidão do relógio da polícia e do Judiciário. A sociedade brasileira, na arquibancada ou em qualquer outra parte, não tolera a condescendência com a suspeição.

Noutra frase célebre, Neném Prancha repetia para os jogadores dos times que dirigiu: "Quem se desloca recebe; quem pede tem preferência". Lula deveria exigir um deslocamento do União Brasil. Pedindo, o partido de Juscelino teria preferência na indicação de um ministro menos desqualificado para a pasta das Comunicações. Desconvocado, o acusado seria presenteado com tempo livre para estruturar uma defesa crível.

Mantendo o suspeito no cargo, Lula faz gol contra. Revela que não aprendeu nada com os tropeços dos dois primeiros mandatos. A essa altura, já deveria ter percebido que o melhor momento para se livrar de um ministro suspeito é no ato da nomeação. O segundo melhor momento é sexta-feira da semana passada, quando a Polícia Federal executou mandados de busca e apreensão que incluíram endereços da prefeita da cidade maranhense de Vitorino Freire, Luanna Resende, irmã de Juscelino.

A história mostra que, em algum momento, Lula terá que bater por pressão o pênalti que se abstém de cobrar por opção.

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  • Diferentemente do que constava na primeira versão do texto, Antonio Franco de Oliveira tinha o apelido de Neném Prancha. A coluna foi corrigida.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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