Terror empresarial impõe a faixas de Maceió um aspecto de Gaza
Nas últimas 72 horas, armou-se em Maceió uma operação emergencial para remover os moradores remanescentes de cerca de 14 mil imóveis. Coisa de 5 mil pessoas. Estão sendo precariamente abrigadas sob o teto de nove escolas. Mais de oito dezenas de pacientes foram removidos de um hospital. Deve-se o corre-corre a um crime ambiental cometido pela multinacional petroquímica Braskem.
De acordo com o ex-governador alagoano Renan Filho, hoje ministro dos Transportes, o total de pessoas deslocadas de suas casas nos últimos anos em decorrência do flagelo chega a 60 mil.
Uma mina aberta pela empresa em área próxima à Lagoa de Mundaú para extrair sal-gema, matéria-prima do PVC, ameaça sucumbir, sugando um pedaço da cidade. A percepção de que o buraco poderia virar tragédia ganhou consistência técnica em 2019. Relatório do Serviço Geológico do Brasil constatou a instabilidade do solo, apontou sinais de desabamento da mina e alertou para o risco de colapso.
No total, a Braskem abriu no subsolo de Maceió 35 minas. O chão afundou em cinco bairros. A grossa maioria dos moradores já foi removida. Mas muitos resistiam em deixar suas casas. Alguns estão sendo transferidos a contragosto, por força de decisão judicial.
Mal comparando, acontece nos bairros de Maceió situação parecida com a dos moradores arrancados pelos bombardeios do norte da Faixa de Gaza. A diferença é que a bomba alagoana vem do subsolo, não do alto. De resto, os túneis de Maceió foram abertos por um tipo diferente de terrorismo —o terror empresarial. Não se chega a um desastre dessa magnitude por acaso. A incúria empresarial criminosa foi facilitada pela inépcia estatal.
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