Lira sambou dentro do seu bolso
Ao retornar das férias, na semana passada, Arthur Lira fez um discurso enfezado. Avisou a Lula que o orçamento da República "é de todos". Quatro dias depois, numa sexta-feira carnavalesca, Lira requisitou um jato da FAB para flanar com oito acompanhantes no circuito Brasília-Salvador-Rio de Janeiro. Quem no Carnaval viajou com dinheiro do próprio bolso deve perceber que o imperador da Câmara desenvolveu um conceito muito particular do direito coletivo. Trata a verba que seria "de todos" como algo gratuito e pessoal.
Alegou-se que Lira precisou recorrer à FAB-Air por motivo de segurança. Em Salvador, o imperador da Câmara suou, ao som de Bell Marques, um uniforme do bloco Vumbora. Estava acompanhado do deputado Elmar Nascimento. Com o apoio de Lira, Elmar ambiciona levar à presidência da Câmara, no ano que vem, o mesmo balacobaco que o mantém dentro dos cofres da Codevasf desde Bolsonaro. No Rio, Lira desfilou na Sapucaí o seu "orgulho" pela "história e cultura" da capital de Alagoas, valores cultuados no enredo da Beija-Flor ao preço de R$ 8 milhões em verbas da prefeitura de Maceió. O preço da segurança de Lira é a eterna chateação dos contribuintes —os federais e os municipais.
A história mostra que Lira não é um político fora da curva. Com todo o seu ziriguidum, ele se tornou a própria curva. Enriqueceu os mandatos com sua fortuna. Como presidente da Câmara, dispõe de mordomo, criadagem, seguranças, geladeira cheia, carro na garagem e jatinho no hangar. Tudo isso e mais emendas para kits de robótica superfaturados e amigos supremos para arquivar processos. Com tanto poder, adquiriu aversão a saguão de aeroporto, antipatia por despensa vazia e ojeriza a inquérito policial.
No discurso enraivecido da semana passada, Lira declarou que a aplicação do orçamento federal não pode ser decidida por "uma burocracia técnica", que "não foi eleita" e "não gasta a sola de sapato percorrendo os pequenos municípios brasileiros como nós". Em 2026, Lira gastará o couro artificial que lhe cobre o pé numa campanha ao Senado. Num país convencional, o eleitor alagoano mostraria a Lira que o voto pode ser um ótimo corretivo. No Brasil, gente como Lira pertence a uma linhagem imune às urnas. Por isso, Lira samba dentro do seu bolso.
27 comentários
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Miria Moreira Rodrigues
Passou o carnaval usando o nosso dinheiro, Patrocinando escolas e viajando no avião da FAB, até quando vamos aguentar estes políticos desonestos?
Marcio Francisco Zichia
A irmã da Mary L não foi assistir Flamengo x São Paulo em um, né Josias? Nem o Juscelino foi à um leilão de cavalos…São todos exímios cumpridores da lei!
Washington José Landin
Este país, infelizmente, parece não ter jeito. Os comentários de muitos dos leitores são a tônica desta realidade, pois em vez de críticas às imoderações do presidente da Câmara com o dinheiro público, relevam e partem para o ataque ao Presidente.