Presença do condenado Collor na posse de Dino é um escárnio
O escárnio adquiriu na posse de Flávio Dino no Supremo Tribunal Federal uma persuasiva, uma admirável naturalidade. Fernando Collor de Mello compareceu à cerimônia como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Fingiu não perceber que, no seu caso, nada é um vocábulo que já ultrapassou tudo.
Em maio do ano passado, Collor foi condenado pela Suprema Corte a oito anos e dez meses de cadeia por desviar cerca de R$ 20 milhões dos cofres da BR Distribuidora, antiga subsidiária da Petrobras. Há dez dias, o ministro Alexandre de Moraes indeferiu o derradeiro recurso do sentenciado.
Para retardar o encontro de Collor com uma cela, Dias Toffoli pediu vista do processo em plena sexta-feira de Carnaval. Além de estender um tapete vermelho para que Collor ingressasse na Corte que o sentenciou, Toffoli condenou o brasileiro à pena do espanto perpétuo.
Collor já havia desfilado seu prontuário pelos salões do Planalto, na solenidade de transferência do cargo de ministro da Justiça de Dino para Ricardo Lewandowski. Sentiu-se à vontade para levar sua face de madeira também à Suprema Corte.
Além de Collor, deu as caras na posse de Dino o ex-colega de Esplanada Juscelino Filho. Ministro mangalarga das Comunicações, Juscelino é protagonista no Supremo de inquérito por suspeita de desvio de verbas do orçamento federal.
Numa evidência de que a conjuntura conduz o escárnio às fronteiras do paroxismo, a investigação estrelada por Juscelino é parte do acervo que aguarda pelos despachos de Dino no gabinete que herdou da ex-ministra Rosa Weber. Brasília parece exigir do Brasil que suprima dos seus hábitos o ponto de exclamação.
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