Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Senado abre funeral da reeleição

Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, está decidido a votar nos próximos meses uma proposta de emenda à Constituição que acaba com a reeleição para presidente, governador e prefeito. Convenceu-se de que será aprovada. No momento, discute-se a forma e os prazos. Encontram-se sobre a mesa ideias como o aumento dos mandatos de quatro para cinco anos. E a unificação de eleições municipais e federais, com eventual prorrogação de mandatos.

As opções são analisadas no âmbito de um debate sobre a reforma do Código Eleitoral. Relator da matéria, o senador Marcelo Castro já fala como coveiro da reeleição. Nesta quinta-feira, após expor as alternativas a Pacheco e aos aos líderes partidários, ele declarou: "O que eu já percebi é que há o sentimento majoritário de que o instituto da reeleição é uma coisa que a maioria dos senadores entende que não é benéfica ao país, ao regime democrático. Não está funcionando."

Em 2020, com 23 anos de atraso, Fernando Henrique Cardoso reconheceu o desastre político que produziu ao pegar em lanças no Congresso para obter a própria reeleição: "Devo reconhecer que historicamente foi um erro", escreveu. Alegou que "tinha em mente o que acontece nos Estados Unidos". Com o tempo, concluiu que "é ingenuidade imaginar que os presidentes não farão o impossível para ganhar a eleição".

O problema das autocríticas é que elas sempre chegam tarde. A reeleição foi aprovada no Congresso sob atmosfera vadia. Soavam ao fundo o tilintar de verbas e as vozes de deputados pilhados numa fita. Eles mencionavam uma certa "cota federal" que ajudou a remunerar-lhes o voto.

Em 1998, Fernando Henrique impulsionou sua recandidatura com um ruinoso populismo cambial. Reeleito, desvalorizou o real em janeiro de 1999. Desde então, os presidenciáveis passaram a prometer nas campanhas acabar com a reeleição. Todos mudaram de ideia ao sentar no trono.

Bolsonaro levou a perversão às fronteiras do paroxismo. A despeito de todo o populismo eleitoral, tornou-se o primeiro presidente da história a ter a reeleição vetada pela maioria do eleitorado. Ao tentar um golpe de Estado, imaginou que o impossível é apenas um vocábulo que traz o possível injetado dentro de si. Deu no que está dando.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes