Josias de Souza

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Opinião

Diante dos ministros, Lula toma o veneno servido por Bolsonaro

Na política, aquele que enfurece o adversário controla os seus movimentos. Em declínio nas pesquisas, Lula convocou a primeira reunião ministerial do ano com o objetivo de esboçar uma reação. Converteu Bolsonaro em sujeito oculto do encontro.

Tomando gosto pela raiva, esqueceu que sua prioridade é mostrar resultados. Desperdiçou a paciência dos brasileiros que avaliam mal a sua administração.

Na abertura da reunião, Lula declarou que não há mais dúvida de que houve uma tentativa de golpe nos ataques de 8 de janeiro. Chamou Bolsonaro de "covardão".

Ainda que se admita que os depoimentos do general Freire Gomes e do brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, deixaram Bolsonaro mais próximo de uma condenação criminal, a satanização do investigado não elevará a taxa de popularidade de Lula.

O presidente reconheceu que há muito por fazer. Mas avaliou que seu governo já fez muito. Deu um sutil puxão de orelhas nos ministros: "Se as pessoas não falam bem da gente, ou bem das coisas que a gente fez, nós é que temos que falar".

Numa evidência de que o problema não se restringe à comunicação, mas ao conteúdo do que é comunicado, Lula mencionou a recuperação de programas como Bolsa Família, Mais Médicos e Farmácia Popular. O apego a feitos de gestões antigas do PT evidencia a falta de uma marca nova para o terceiro mandato.

A certa altura, Lula criticou o uso político da religião. Disse que a fé é manipulada de "forma vil e baixa". Esqueceu de mencionar que sua impopularidade entre os evangélicos aumentou depois que intoxicou os reparos justificáveis à matança de palestinos em Gaza com uma injustificável comparação com o extermínio de judeus por Hitler na Segunda Guerra. Lula gosta de criticar. Mas não admite ser criticado.

Escalado para enumerar os feitos do governo o chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que o desemprego tem sua menor taxa desde 2015. Realçou que o salário mínimo cresce acima da inflação depois de cinco anos. É verdade. Mas a queda do prestígio de Lula até entre os eleitores que votaram nele potencializa a percepção de que a industrialização da raiva só interessa à oposição.

Ao se pautar pelo ressentimento, Lula se comporta como o sujeito que toma veneno na esperança de que o adversário morra. Converte-se numa oportunidade que o bolsonarismo aproveita.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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