Josias de Souza

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Opinião

Bolsonaro virou caricatura que foge ao controle de si mesma

Há uma originalidade cômica nos movimentos de Bolsonaro. Suas ações são autodestrutivas. Na Presidência, comportou-se como um suicida didático. Demarcou os erros com tanto cuidado que facilita o trabalho dos investigadores da Polícia Federal. Agora, assombrado pela perspectiva de uma prisão que já enxerga como incontornável, deixou-se filmar esboçando algo muito parecido com uma rota de fuga.

Notícia veiculada nesta segunda-feira pelo jornal "New York Times" revelou que Bolsonaro hospedou-se por dois dias na embaixada da Hungria em Brasília. Foi monitorado pelas câmeras do circuito interno. Chegou em 12 de fevereiro, apenas quatro dias depois que Alexandre de Moraes mandou recolher seu passaporte, trancando-o no território nacional.

Constrangido pela divulgação das imagens, Bolsonaro confirmou que pernoitou duas noites na embaixada húngara. Em nota, seus advogados alegaram que a hospedagem serviu para que o capitão conversasse com autoridades da Hungria. Em pleno Carnaval, dedicaram-se a atualizar os cenários políticos de dois países amigos.

Considerando-se que um automóvel demora cerca de 20 minutos para se deslocar da casa de Bolsonaro até a embaixada, fica difícil revestir de lógica uma desculta tão esfarrapada. Não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual Bolsonaro se equipa para pedir a proteção do autocrata húngaro Viktor Orbán.

Ninguém em sã consciência deixa tantas pistas óbvias. Mas Bolsonaro, como uma caricatura que foge ao controle de si mesma, antecipa a rota de fuga: farejando a prisão, ele entra na embaixada da Hungria, se apresenta como perseguido político e pede asilo diplomático.

Para deixar o Brasil, precisaria de um salvo-conduto do governo. Negando-o, Lula estimularia os devotos do mito a erguerem suas barracas no setor de embaixadas de Brasília. Tanto didatismo submete Bolsonaro ao risco de amargar antes da hora uma prisão preventiva que o Supremo preferia evitar.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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