Cabeça de Moro cai no mesmo balaio em que está a de Deltan
Sergio Moro trocou 22 anos de magistratura pela política sob o pretexto de que guerrearia contra retrocessos no combate à corrupção, evitando uma "virada de mesa" na Lava Jato. Tremendo erro de cálculo. Começou a brincar com sua própria mentira em 1º de janeiro de 2019, quando virou ministro da Justiça de Bolsonaro. Nesta segunda-feira, encosta o pescoço na guilhotina do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná como protagonista de uma típica história de primeiro de abril. A única diferença é que essa história é verdadeira.
Pelo cheiro de sangue, não são negligenciáveis as chances de o mandato de Moro no Senado ser passado na lâmina. Confirmando-se essa hipótese, na praça regional ou em Brasília, no Tribunal Superior Eleitoral, a cabeça de Moro cairá no mesmo balaio em que se encontra a de Deltan Dallagnol. Escravo das próprias mentiras, Moro transformou o destino em fatalidade.
Juiz, jurou que jamais entraria na política. Ministro, simulou desinteresse pelo Planalto. Presidenciável, disse que levaria a campanha até o fim. Empurrado para uma candidatura de deputado federal por um partido, em São Paulo, elegeu-se senador por outra legenda, no Paraná. Autores das ações que começam a ser julgadas nesta segunda-feira, o PT de Lula e o PL de Bolsonaro alegam que, nesse vaivém, Moro cometeu crimes eleitorais.
A acusação de abuso do poder econômico, endossada pelo Ministério Público, possui uma solidez irônica. É sólida porque os gastos da pré-campanha presidencial de Moro estão documentados. É irônica porque a "superexposição" que lhe garantiu o mandato de senador foi obtida nos quatro anos e meio que esteve na vitrine da Lava Jato, não em poucos meses de campanha.
O ex-juiz colecionou inimigos. Mas nenhum deles investiu contra a reputação de Moro com tanta competência quanto o próprio Moro. Ajudou a carbonizar as sentenças que lhe deram fama. Chega à guilhotina num instante em que até as multas de corruptores confessos são incineradas no forno do Supremo. A hemorragia de Moro escorre sobre as cinzas da Lava Jato.
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