Josias de Souza

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Opinião

Inquérito que cita Rui Costa vai virar a Disney do bolsonarismo

O inquérito da Polícia Federal em que é citado o chefe da Casa Civil Rui Costa possui todos os ingredientes que fazem a festa do bolsonarismo nas redes sociais: um ministro petista com gabinete no Planalto, um negócio da China, a pandemia da covid, uma delação e um inusitado aroma de maconha. Com esses elementos, a investigação esmiuçada pelo UOL será instantaneamente convertida numa espécie de Disneylândia do bolsonarismo.

O caso envolve a compra de respiradores chineses, em abril de 2020, para abastecer o Consórcio Nordeste, grupo composto por estados governados por petistas e aliados. Rui Costa, então governador da Bahia, presidia o consórcio. A transação foi orçada em R$ 48 milhões. A emergência fez sumir a licitação. Pagou-se antecipadamente por equipamentos que jamais foram entregues. A CPI da Covid fugiu do tema, sob a alegação de que não dispunha de legitimidade para escarafunchar desvios estaduais.

Escolheu-se para importar os respiradores pulmonares a Hempcare, empresa sem qualificação para a tarefa. No papel, dedicava-se a distribuir medicamentos à base de canabidiol, substância química extraída da planta da maconha. Sócia da arapuca, a delatora Cristiana Taddeo empurrou para dentro do inquérito um enredo que deixa mal o homem forte do governo Lula. Mencionou dois intermediários, um deles com supostos laços de amizade com a mulher de Rui Costa. Disse que pagou à dupla comissões de R$ 11 milhões. Entregou os extratos à Polícia Federal.

Coube a Bruno Dauster, chefe da Casa Civil de Rui Costa no governo baiano, fazer contato com a empresária, agora convertida em delatora. Dauster contou à PF que o próprio governador lhe passou o contato da Hempcare. Em sua defesa, Costa diz que foi ele quem pediu para que o caso fosse investigado.

O inquérito irá delimitar as culpas. Mas a alegação não livra Rui Costa nem mesmo da pecha da incompetência. Faltou ao então governador baiano levar em conta uma lei não escrita de autoria de Mário Henrique Simonsen, ministro da Fazenda de 1974 a 1979.

Quando alguém traz o projeto de uma obra, dizia Simonsen, deve-se perguntar quanto custará a comissão. Descoberto o percentual, paga-se a comissão e não se fala mais na obra. Rui Costa não teria virado matéria-prima para o bolsonarismo se tivesse aplicado a mesma regra quando lhe chegou a proposta de importar respiradores da China por meio de uma distribuidora de remédios derivados da folha da maconha.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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