Reações do Hamas ao forte ultimato de Israel: prazo de 7 dias está em curso
As pressões internacionais, as continuadas violações ao direito internacional público -ou "direito das gentes"-, o aumento dos protestos de estudantes universitários nos EUA e Europa, o crescimento do antissemitismo pelo planeta, a perda de poder interno dos extremistas religiosos da ultradireita e a oposição do ministro Benny Gantz entre os seus pares no chamado "gabinete de guerra", levaram o premiê israelense Benjamin Netanyahu a jogar sua última cartada.
Bibi Netanyahu lançou um 'ultimatum' e deu prazo de sete dias para resposta do Hamas: soltura dos reféns ou imediata invasão de Rafah.
Rafah é a última cidade do sul de Gaza, na fronteira meridional com o Egito, com mais de um milhão de migrantes palestinos do norte da Faixa de Gaza e com refugiados das várias guerras do Oriente Médio.
Operadores do direito internacional levantaram uma preocupação. É que no direito das gentes leva-se muito a sério o observado pela saudosa escritora e ativista trabalhista Simone Weil, que morreu de inanição em uma greve de fome: "atrás de um erro de terminologia interpretativa existe um erro de pensamento". Em outras palavras, tudo precisa ficar bem entendido e formalizado.
O primeiro ministro Bibi Netanyahu não havia deixado claro se a entrega dos reféns resultaria num permanente cessar fogo, com a saída das forças armadas israelenses de toda a faixa geográfica de Gaza. Ficou a dúvida, ainda, se Bibi estava a falar com base nas tratativas em aberto no Cairo e em Doha.
De pronto, veio o "não" de Yahya Sinwar. Ele é o chefão do Hamas em Gaza. Não sai da região e vive nos túneis. Sinwar projetou e executou o ataque terrorista de 7 de outubro contra o estado de Israel e os cidadãos israelenses. Ele comanda o restante das originais cinco brigadas, 24 batalhões e 120 companhias. Seu irmão foi o responsável pelas obras de construção dos túneis, a maioria com 3 metros de largura e 4 metros de altura. Fala-se um arquitetura tipo "teia de aranha", com comunicações e expansão com mais de 4km de raio.
Ismail Hanieyeh, comandante do Hamas fora de Gaza e que vive em Doha, mandou uma delegação para o Egito a fim de negociar. Apenas aparente é o dissenso entre Sinwar e Hanieyeh, pois a estratégia é um dizer não e o outro abrir negociação.
'Ultimatum' detalhado: 204 dias de guerra
Em 24 horas, o ultimato ficou mais claro, dadas as pressões dos EUA, Europa e países árabes que querem distância do Hamas: o Egito, por exemplo, sabe ser o Hamas um braço amigo da Irmandade Muçulmana já banida do país. A Arábia Saudita vê o Hamas, embora sunita, como massa de manobra do xiita Irã, inimigo dos sauditas.
Na manhã deste sábado, 4 de maio e dia 204 da guerra, tudo ficou mais claro e até o respeitado jornal Haaretz, de oposição a Netanyahu e de esquerda, deu uma boa notícia: "Hamas aceita o acordo de cessar fogo".
Este colunista e estudioso do direito das gentes, cultor do direito humanitário internacional, não tem o otimismo da manchete do Haaretz. Está tudo muito confuso quanto ao que caberá ao enfraquecido Hamas.
A meta do Hamas de apagar Israel do mapa do Oriente Médio continua viva. Mais ainda: não quer o Hamas retirar-se de Gaza. Quer a saída do IDF (exército de Israel) e a retomada do controle de Gaza e faz o balanço de 34.654 mortos e 77.908 feridos. Numa chave de leitura feita pelo gabinete de guerra de Israel, isso significaria vitória do Hamas e assim seria difundido.
Israel, em troca da libertação de todos os reféns, encerraria os ataques (cessar fogo definitivo) e sairia de Gaza. Essa seria a proposta de momento.
Novidade
Uma novidade circula forte. O gabinete de guerra e não mais Netanyahu cuidaria do acordo.
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Quero receberO Hamas está belicamente quase liquidado. Continua com a imagem de uma organização terrorista e não pegou o discurso de movimento de resistência para legitimar as atrocidades de 7 de outubro.
Por outro lado, ninguém tem mais dúvida a respeito do sanguinário Netanyahu. Faz qualquer coisa para se manter no poder, ainda que a expressiva maioria queira a sua queda como premiê. Sua única esperança tem a ver com a eleição de Donald Trump.
O ultimato, embora tenha partido do desprestigiado e sanguinário Netanyahu, foi forte. Um grito fortíssimo de desespero de Bibi, tipo o pelicano da poesia do francês Alfred di Musset (1810-1857).
Segundo a Cia. Mossad e Shin Bet, na região meridional está o último dos 24 batalhões do Hamas, que teria começado a guerra com cerca de 25 mil homens. Daí vem a força do ultimato de Netanyahu,
Com a saída de Israel de Gaza, pelo que se sente entre a diplomacia e os operadores do direito internacional público, toda a faixa ficaria sob controle da Autoridade Palestina e o Hamas não voltaria. Fala-se que ficaria num enclave em Rafah, mas o Egito, por evidente, não quer o Hamas na sua fronteira.
Num resumo: tudo está sendo costurado.
Ajuda humanitária e máfias
A ajuda humanitária está chegando, embora grande parte dela, fala-se em 60% de desvio, está a cair em mãos dos clãs, que realizam revenda à população palestina por preços exorbitantes.
No fundo, um método mafioso de aproveitadores da desgraça alheia.
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