Hesitação no caso das joias dá à PGR de Gonet um aroma de Aras
Ao levantar o sigilo do caso das joias, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes enviou o inquérito à Procuradoria-Geral da República. São três as providências que o órgão pode adotar: arquivar, requisitar novas diligências ou denunciar Bolsonaro e os outros 11 indiciados. Nos bastidores, a equipe de Paulo Gonet namora uma quarta hipótese: empurrar a denúncia com a barriga até depois das eleições municipais.
Convém à Procuradoria-Geral eliminar a hesitação do seu cardápio. O eventual adiamento da denúncia seria um flerte com a imprudência e a ilegalidade. A protelação é imprudente porque uma autoridade que mata o tempo quando os fatos a intimam a agir comete suicídio. É ilegal porque o Código de Processo Penal fixa prazos para o oferecimento de denúncia. Se o encrencado está preso, cinco dias. Se está solto, 15 dias.
Alega-se que o adiamento para depois das eleições municipais evitaria a politização da denúncia. Tolice. Bolsonaro já jogou o caso no ventilador da política. Fez isso bem antes dos indiciamentos. Para o bolsonarismo, culpa virou um outro nome para perseguição. Mesmo quando o crime traz a marca do capitão gravada numa mensagem ao ex-ajudante de ordens: "Selva".
De resto, se os inquéritos contra Bolsonaro fizerem escala na gaveta, a gestão de Paulo Gonet ganhará um insuportável aroma de Augusto Aras. É melhor que um procurador-geral seja a soma das suas decisões do que das suas hesitações. Convém refletir sobre a inconveniência de decidir não fazer. Quem escolhe o momento exato economiza muito tempo.
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