Josias de Souza

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Opinião

Investida de Lula contra big techs flerta com a inutilidade

Em entrevista à TV Record, Lula levou as grandes corporações digitais à alça de mira. Disse que a regulação das controladoras das redes sociais é "urgente", pois não é possível que "meia dúzia de empresas" ganhem bilhões com publicidade e com a disseminação de "mentiras" e de "ódio". A manifestação de Lula é tão adequada quanto tardia. Suas palavras flertam com a inutilidade e o fiasco.

A adequação da fala de Lula decorre da evidência de que a monetização da raiva e da inverdade pelas chamadas big techs leva à tribalização social. Algo que conspira contra a civilidade e pede providências.

"Cabe ao Palácio ter uma posição", declarou Lula, com a pretensão de soar veemente. Suas palavras chegam tarde porque, a essa altura, Arthur Lira já enviou para a lata do lixo uma boa proposta. O Planalto não deu um pio. Desperdiçou um bom naco da legitimidade de que dispunha para piar.

Há três meses, o imperador da Câmara constituiu grupo de trabalho para reiniciar do zero debate que se arrasta por mais de quatro anos no Congresso. Desistiu de incluir na pauta um projeto que aproximaria o Brasil de democracias europeias. Países que já se equiparam para impor às corporações da internet, por exemplo, a exclusão de conteúdo que induza ao racismo, terrorismo, golpe de Estado, crimes contra a infância, mutilação, suicídio e infração sanitária.

A coisa parecia avançar quando os deputados aprovaram, no ano passado, requerimento para que o projeto tramitasse em regime de urgência. Súbito, o lobby das big techs e a desinformação produzida pela banda arcaica do Legislativo impediram a votação do mérito.

Nessa época, Lula escondeu-se atrás do silêncio. Agora, anuncia para esta semana uma reunião com o minstro da Justiça, Ricardo Lewandovisk. Nessa conversa, decidirá se o governo apoiará o texto desprezado por Lira ou se enviará novo projeto ao Congresso.

Lula namora com a inutilidade e o fiasco porque não dispõe de tropa legislativa capaz de dissolver o impasse que fez a Câmara desprezar um texto que aperfeiçoava o que o Senado já havia aprovado. É como se o presidente da República entrasse numa guerra contra inimigos poderosos armado apenas de voluntarismo e saliva. Não tem o menor risco de dar certo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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